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domingo, 29 de abril de 2012

Cantiga Para Ninar Malvina, (Jorge Amado)

Jorge Amado é considerado um dos maiores ícones da literatura brasileira, nas suas narrativas expressou como ninguém a cultura nordestina, especialmente a baiana e mostrou a mestiçagem cultural brasileira através de personagens estrangeiros presentes em suas narrativas. Uma coisa que poucos observam é que Amado também se "arriscava" nos poemas. Em suas narrativas pode-se, de repente, encontrar versos como os que vem a seguir, presentes em Gabriela. Este ano é o centenário de Jorge, e reverenciamos aqui esse grande marco da literatura brasileira que, junto com outros colegas regionalistas, serviu de inspiração para muitas das obras que nasceram no Neo-Realismo português.


Cantiga Para Ninar Malvina, (Jorge Amado)


"...A navegar partirei
acompanhada ou sozinha,
Abençoada ou maldita
a navegar partirei.
Partirei pra me entregar
a navegar partirei.
Partirei pra trabalhar

a navegar partirei.
Partirei pra me encontrar
para jamais partirei.


Dorme, menina dormida
teu lindo sonho a sonhar."

(Jorge Amado, em Gabriela Cravo e Canela)



quarta-feira, 18 de abril de 2012

A LENDA DA FLOR DE lOTUS





A LENDA DA FLOR DE lOTUS

A flor-de-lótus (Nelumbo nucifera), também conhecida como lótus-egípcio, lótus-sagrado e lótus-da-índia, é uma planta da família das ninfáceas (mesma família da vitória-régia) nativa do sudeste da Ásia (Japão, Filipinas e Índia, principalmente).


Olhada com respeito e veneração pelos povos orientais, ela é frequentemente associada a Buda, por representar a pureza emergindo imaculada de águas lodosas. No Japão, por exemplo, esta flor é tão admirada que, quando chega a primavera, o povo costuma ir aos lagos para ver o botão se transformando em flor.

Lótus é o símbolo da expansão espiritual, do sagrado, do puro.

Certo dia, à margem de um tranquilo lago solitário, a cuja margem se erguiam frondosas árvores com perfumosas flores de mil cores, e coalhadas de ninhos onde aves canoras chilreavam, encontraram-se quatro elementos irmãos: o fogo, o ar, a água e a terra. - Quanto tempo sem nos vermos em nossa nudez primitiva - disse o fogo cheio de entusiasmo, como é de sua natureza. É verdade - disse o ar. - É um destino bem curioso o nosso. À custa de tanto nos prestarmos para construir formas e mais formas, tornamo-nos escravos de nossa obra e perdemos nossa liberdade. - Não te queixes - disse a água, pois estamos obedecendo à Lei, e é um Divino Prazer servir à Criação. Por outro lado, não perdemos nossa liberdade; tu corres de um lado para outro, à tua vontade; o irmão fogo, entra e sai por toda parte servindo a vida e a morte. Eu faço o mesmo. - Em todo o caso, sou eu quem deveria me queixar - disse a terra - pois estou sempre imóvel, e mesmo sem minha vontade, dou voltas e mais voltas, sem descansar no mesmo espaço. - Não entristeçais minha felicidade ao ver-nos - tornou a dizer o fogo - com discussões supérfluas. É melhor festejarmos estes momentos em que nos encontrarmos fora da forma. Regozijemo-nos à sombra destas árvores e à margem deste lago formado pela nossa união. Todos o aplaudiram e se entregaram ao mais feliz companheirismo. Cada um contou o que havia feito durante sua longa ausência, as maravilhas que tinham construído e destruído. Cada um se orgulhou de se haver prestado para que a Vida se manifestasse através de formas sempre mais belas e mais perfeitas. E mais se regozijaram, pensando na multidão de vezes que se uniram fragmentariamente para o seu trabalho. Em meio de tão grande alegria, existia uma nuvem: o homem. Ah! como ele era ingrato. Haviam-no construído com seus mais perfeitos e puros materiais, e o homem abusava deles, perdendo-os. Tiveram desejo de retirar sua cooperação e privá-lo de realizar suas experiências no plano físico. Porém a nuvem dissipou-se e a alegria voltou a reinar entre os quatro irmãos. Aproximando-se o momento de se separarem, pensaram em deixar uma recordação que perpetuasse através das idades a felicidade de seu encontro. Resolveram criar alguma coisa especial que, composta de fragmentos de cada um deles harmonicamente combinados, fosse também a expressão de suas diferenças e independência, e servisse de símbolo e exemplo para o homem. Houve muitos projetos que foram abandonados por serem incompletos e insuficientes. Por fim, refletindo-se no lago, os quatro disseram: - E se construíssemos uma planta cujas raízes estivessem no fundo do lago, a haste na água e as folhas e flores fora dela? - A idéia pareceu digna de experiência. Eu porei as melhores forças de minhas entranhas - disse a terra - e alimentarei suas raízes. - Eu porei as melhores linfas de meus seios - disse a água - e farei crescer sua haste. - Eu porei minhas melhores brisas - disse o ar - e tonificarei a planta. - Eu porei todo o rneu calor - disse o fogo - para dar às suas corolas as mais formosas cores. Dito e feito. Os quatro irmãos começaram a sua obra. Fibra sobre fibra foram construídas as raízes, a haste, as folhas e as flores. O sol abençoou-a e a planta deu entrada na flora regional, saudada como rainha. Quando os quatro elementos se separaram, a Flor de Lótus brilhava no lago em sua beleza imaculada, e servia para o homem como símbolo da pureza e perfeição humana. Consultaram-se os astros, e foi fixada a data de 8 de maio - quando a Terra está sob a influência da Constelação de Taurus, símbolo do Poder Criador - para a comemoração que desde épocas remotas se tem perpetuado através das idades. Foi espalhada esta comemoração por todos os países do Ocidente, e, em 1948, o dia 8 de Maio se tomou também o "Dia da Paz".
http://www.viacapella.com.br/portal/lotus.htm

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Árvore Bailarina


ALGUMAS CONSIDERAÇÕES MACHADIANAS

PONTO DE VISTA – Para refletir


ALGUMAS CONSIDERAÇÕES MACHADIANAS

Por: Maria do Socorro P. de Almeida

Observando a sociedade em geral e levando em conta os valores passados por essa e quão vulnerável é a capacidade humana de acreditar e ditar esses valores, percebe-se que acreditar em fatos é mais fácil que construir um pensamento em favor de um semelhante, principalmente quando estes pensamentos tende a quebrar conceitos e a retórica de uma sociedade, onde nascemos e nos criamos como "frutos", com sabor impregnado por esses valores.

Machado de Assis sempre teve uma maneira muito especial de criticar, tanto que alguns críticos ousam dizer que ele passou pelo abolicionismo despercebidamente, ou seja, não fazia parte do movimento, porque alguns de seus contemporâneos o achavam distante e solitário, Mas será que isso tem uma explicação.

Vemos a sociedade do século XXI e percebemos que ainda existe o preconceito contra negros e doentes, mulheres, homossexuais, entre outros, imaginem em pleno séc. XIX. Compreende-se o temor de Machado de ter, por exemplo, uma crise epilética em meio ao publico em geral ou na redação em que trabalhava, pois além de mestiço e pobre ainda era epilético.

A obra machadiana está impregnada de críticas e ironias ao comportamento dos indivíduos, encontramos várias críticas genialmente direcionadas à uma sociedade hipócrita e de valores deturpados, preocupada com o próprio umbigo. Machado, em seu percurso realista, na verdade, foi muito moderno, pois ali já deixava nas mãos do leitor, a reflexão sobre valores e fatos, como é o caso do comportamento do Barão de Santos que, em meio ao alvoroço apenas se preocupava com seu negócio, e da atitude do conselheiro Aires ao negar participação em movimento abolicionista quando, na realidade o autor da obra já havia participado, em praça pública, de um movimento. Na verdade dizer que Machado se isentou as questões da condição do negro, não deve ter lido contos como Pai contra mãe, por exemplo. Percebe-se a presença forte da linguagem mordaz machadiana em frases como: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis” e toda ironia que permeia a obra de Quincas Borba.

Nas suas crônicas, Machado também usava de ironia para com a hipocrisia que embasava a política de um modo geral como o caso em que um candidato estava escrito em três partidos diferentes, o liberal, o republicano e o conservador o que fez com que Machado escrevesse essas palavras: “Oh! Não mudeis de casa! Mudai de roupa! Mudai de fortuna, de amigos, de opinião, de criados. Mudai tudo, mas não mudeis de casa”!

Ao adentrar a obra machadiana, em especial, D. Casmurro, nos deparamos com valores criados e entranhados no indivíduo, dos quais não se desvencilha tão facilmente, principalmente quando a desconstrução desses valores implica idoneidade do indivíduo, ou seja, coloca sob suspeita, atitudes de membros de uma sociedade essencialmente patriarcal.

Machado, sutilmente e de forma genial, deixa seu ressentimento mulato fluir, colocando ideais valorizados, que, na verdade, podem estar equivocados se vistos com menos preconceito. Em D.Casmurro, Bentinho leva o leitor a julgar Capitu como adultera, embora em nenhum momento deixe claro essa atitude por parte da esposa. Machado mostra a tendência social de se acreditar no fato mesmo sem ser dito, só pela fácil aceitação de uma sociedade retoricamente machista que não é capaz de considerar, nem por um momento, a idéia de que o próprio Bentinho poderia ter criado essa situação através dos “mitos” que norteiam sua mente doentia e, patologicamente ciumenta, de ter usado seus artifícios de orador e defensor de causas como advogado que era, para convencer ao leitor, ou seja, a verossimilhança criada por Bentinho mais os valores incutidos no senso comum da sociedade vão conduzir o leitor ingênuo exatamente ao propósito do protagonista, a condenação de Capitu.

Um orador nato e advogado acostumado a usar argumentos de defesa pode criar situações e estratégias em seu favor, manipulando-os para o que lhe for conveniente. Dessa forma ninguém pode garantir se o ciúme de Bentinho era realmente de Capitu ou de Escobar, afinal eram amigos de anos atrás e tinham uma história de solidão, solidariedade e profunda amizade dentro do seminário, mas essa possibilidade também seria difícil ao senso social, a traição de Capitu seria a mais bem aceita por ser a mais conveniente aos brios machistas de uma sociedade conservadora e tirânica que faz justiça com as próprias mãos.

A estratégia narrativa usada genialmente por Machado nos leva a pensar até que ponto a verossimilhança pode ser realidade ou a imaginação. O artifício usado por Machado em D. Casmurro é o mesmo que ele usa em Ressurreição quando, levado pelo conceito que tinha de casamento e de fidelidade, Felix se deixa levar pela verossimilhança passada pela carta anônima escrita pelo seu rival, trazendo à tona mais, uma vez, o mito de Otelo e uma indagação à psicanálise. O fato de sua noiva ser viúva (já ter pertencido a outro), faz com que Felix imagine que ela está traindo o marido morto e por isso poderia traí-lo também.

Dessa forma, mais uma vez Machado mostra os conceitos sociais que produzem o preconceito e podem formar indivíduos doentios que acreditam no que a própria mente cria, baseada nos valores sociais, podendo prejudicar a própria vida como também as dos outros como acontece com os personagens citados nas citadas obras.