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sábado, 8 de setembro de 2012

O AUGE DE UM HOMO ECONOMICUS?



O AUGE DE UM HOMO ECONOMICUS?

Por: Maria do Socorro pereira de Almeida em 07/09/2012

O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele?
Immanuel Kant.


Hoje, sete de setembro de 2012, gostaria de expressar minha indignação quanto a fala da presidente da República, ontem, em rede nacional. Temos no Brasil hoje uma realidade de uma saúde falida a ponto de, mesmo quem paga um plano a parte, já por não ter direito ao que lhe é de direito, morre a míngua nas portas dos hospitais ou espera um ou dois meses por uma consulta, dependendo da cidade em que resida.
Mas vamos para a educação! Atualmente somos obrigados a assistir a falência dos cursos de licenciatura em todo país, que vão minguando aos poucos como se fossem corroídos por um câncer, o câncer do desprezo e da indiferença pela educação. É engraçado pensar: porque será que ninguém quer ser professor no Brasil? Quando acabar esse acervo de professores que aí está como vamos formar crianças e adultos? Afinal, para qualquer área que se tenha pretensão de seguir deve existir um professor para formar e este, deve ter base que o leve a atuar em sala de aula, ou seja, deve ter cursado disciplinas que o qualifique como professor, porque bacharel não é professor, pelo menos, era assim que se pensava até bem pouco tempo.
Enquanto isso, temos que assistir em rede nacional a presidente falar da economia, da qual só os ricos sentem os sintomas, porque os pobres não sabem como isso acontece se ele continua endividado, ganhando pouco, contando moedas, catando latinha, catando lixo, sem teto, sem emprego, vivendo das esmolas do governo e assistindo o aumento dos preços das coisas cada vez que vai ao supermercado. Por outro lado a classe média foi abandonada de vez, ela está se afundando por ter que pagar os juros, os impostos, as taxas e outros encargos para sustentar as outras classes. Sobre esse contexto pedimos a palavra de Marilena Chauí em entrevista para o sindicato dos jornalistas de São Paulo em 27-08 2012 e publicada pela Cut:


Além disso, social e economicamente nossa sociedade está polarizada entre a carência absoluta das camadas populares e o privilégio absoluto das camadas dominantes e dirigentes, bloqueando a instituição e a consolidação da democracia. Um privilégio é, por definição, algo particular que não pode generalizar-se nem universalizar-se sem deixar de ser privilégio. Uma carência é uma falta também particular ou específica que se exprime numa demanda também particular ou específica, não conseguindo generalizar-se nem universalizar-se. Um direito, ao contrário de carências e privilégios, não é particular e específico, mas geral e universal, seja porque é o mesmo e válido para todos os indivíduos, grupos e classes sociais, seja porque embora diferenciado é reconhecido por todos (como é caso dos chamados direitos das minorias). Assim, a polarização econômico-social entre a carência e o privilégio ergue-se como obstáculo à instituição de direitos, definidora da democracia.



A " indústria cultural" por sua vez faz bem a parte dela, aliena cada vez mais e incita o consumo do produto e não do conhecimento, numa democracia inexistente, então chamamos mais uma vez Chauí para lidar com este assunto:


Democracia e autoritarismo social.
Estamos acostumados a aceitar a definição liberal da democracia como regime da lei e da ordem para a garantia das liberdades individuais. Visto que o pensamento e a prática liberais identificam a liberdade com a ausência de obstáculos à competição, essa definição da democracia significa, em primeiro lugar, que a liberdade se reduz à competição econômica da chamada "livre iniciativa" e à competição política entre partidos que disputam eleições; em segundo, que embora a democracia apareça justificada como "valor" ou como "bem", é encarada, de fato, pelo critério da eficácia, medida no plano do poder executivo pela atividade de uma elite de técnicos competentes aos quais cabe a direção do Estado. A democracia é, assim, reduzida a um regime político eficaz, baseado na ideia de cidadania organizada em partidos políticos, e se manifesta no processo eleitoral de escolha dos representantes, na rotatividade dos governantes e nas soluções técnicas para os problemas econômicos e sociais.



Falando de educação, mas também de economia, para que falar em professor se temos hoje outro modelo de "educação" que está se alastrando aos poucos e ocupando o todo brasileiro que são os cursos à distância, gostaria de deixar claro que não tenho nada contra a educação à distância, desde que não seja para primeira graduação, isso porque o aluno da primeira graduação não tem ainda a maturidade necessária para caminhar sozinho por mais inteligente que seja. Não se trata de inteligência, mas de algo que Sócrates, na antiguidade grega, colocaria como sendo o autoconhecimento para poder conviver melhor em sociedade e praticar o bem. Porém o filósofo grego fazia isso através do diálogo, indo de encontro ao que a política da época queria e por isso foi condenado à morte.
Estamos falando de algo que Vygotsky chamaria de interação, necessária a todos os aprendentes em formação, portanto, desculpe-me os colegas que defendem essa modalidade, apenas expresso minha posição a respeito. Não podemos negar a importância da tecnologia de informação e temos que tirar dela tudo que ela tem pra dar, mas não podemos pensar que ela só pode favorecer os cofres.
O que quero questionar é: será que a relevância dos cursos à distância que está sendo pregada é porque interessa trazer o ensino até o aprendente ou será para diminuir custos por não ter um professor na sala de aula, afinal durante todo discurso da presidente não se ouviu uma palavra sobre a educação que mostrasse interesse de melhoria para o povo, apenas sobre economia, criação de dinheiro e manipulação de dinheiro. Dessa forma, somos obrigados a pensar que estamos em um governo que trabalha em prol, exclusivamente, do que poderíamos chamar, no capitalismo, de sociedade de consumo.
Como alguém vai querer ser professor no Brasil, assistindo a rotina de um professor de escola particular que ganha um salário mínimo para se matar de trabalhar em inúmeras salas com, no mínimo 50 alunos? Essa é a realidade traumática de filhos de professoras da rede particular e pública de ensino que jamais irão optar pela profissão de professor. Mas é esse contexto que o Governo favorece quando oferece 50% de cota para os alunos de escolas públicas, pois é melhor oferecer a vaga do que consertar as escolas sucateadas, salários aviltantes, com números de professores reduzidos em um espaço de caos.
O professor estuda o tempo todo, graduação, especialização, mestrado, doutorado, pós-doutorado etc. para chegar aí é preciso muito tempo, muita dedicação, muitas noites de sono, muita encrenca com a família, muitas lágrimas dos filhos pela ausência que acaba por trazer um benefício que vem acompanhado de stress, problemas cardíacos, neurológicos, psicológicos entre outros. Esse profissional tem um piso salarial vergonhoso, porque quando se aposenta não tem direito as gratificações e toda sua experiência é ignorada quando se coloca um professor do outro lado do computador para introduzir conteúdo para alunos que apenas recebe o conteúdo numa "educação bancária" que foi tão criticada
por Freire. Por outro lado, esse profissional que tenta se qualificar a vida toda para poder merecer estar numa sala de aula é refutado pela mídia que passa a "injetar", literalmente, na cabeça das pessoas, os cursos técnicos com maiores salários, portanto, o curso técnico, imediatista, com muita informação e pouco conhecimento, é o melhor para todos. Dessa forma, que jovem brasileiro vai se ocupar em entrar numa universidade para ser professor? Mais uma vez não queremos aqui tirar o valor do curso técnico, ele é necessário e importante, mas não pode ter um valor econômico maior do que quem passou anos se dedicando a outros cursos.
Os cursos de tecnologia têm prioridade nas faculdades particulares e também nas públicas, até a concorrência das bolsas de pesquisa é injusta, a exemplo do último concurso jovens talentos realizado pelas universidades Federais de todo país. Abre-se "democraticamente" para todos, quando no contexto de uma prova, grande parte das questões vem de campos de conhecimentos das chamadas ciências exatas, tirando do páreo os estudantes das humanas e tirando também o entusiasmo deles para tais áreas.
Vemos que o governo aposta em uma educação imediatista de grande quantidade e pouco conhecimento. A cobrança por produção de textos científicos faz com que sejam jogados em anais, livros, e alguns periódicos, milhares de artigos sem a devida qualidade para uma publicação, porque se trabalha com a quantidade e não com a qualidade. Estamos vendo um imediatismo na educação do mesmo modo que vemos o imediatismo do lado social em que há distribuição de "esmolas" e nenhuma ação estruturante e duradoura para as classes menos favorecidas.
O professor passou a ser mão-de-obra "escrava" em todos os sentidos e ainda é obrigado a ver e ouvir a mídia colocar fatos e situações mascaradas e enfeitadas para passar a impressão de um país prospero e socialmente justo quando, na realidade, temos uma educação fragmentada, sucateada e manipulada por interesses privados e sustentados ideologicamente pelo poder público e pela mídia. Sobre o poder dos meios de comunicação é interessante ver o que diz Chauí:


Os meios de comunicação como exercício de poder
Podemos focalizar o exercício do poder pelos meios de comunicação de massa sob dois aspectos principais: o econômico e o ideológico.
Do ponto de vista econômico, os meios de comunicação fazem parte da indústria cultural. Indústria porque são empresas privadas operando no mercado e que, hoje, sob a ação da chamada globalização, passa por profundas mudanças estruturais, "num processo nunca visto de fusões e aquisições, companhias globais ganharam posições de domínio na mídia.", como diz o jornalista Caio Túlio Costa. Além da forte concentração (os oligopólios beiram o monopólio), também é significativa a presença, no setor das comunicações, de empresas que não tinham vínculos com ele nem tradição nessa área. O porte dos investimentos e a perspectiva de lucros jamais vistos levaram grupos proprietários de bancos, indústria metalúrgica, indústria elétrica e eletrônica, fabricantes de armamentos e aviões de combate, indústria de telecomunicações a adquirir, mundo afora, jornais, revistas, serviços de telefonia, rádios e televisões, portais de internet, satélites, etc..
No caso do Brasil, o poderio econômico dos meios é inseparável da forma oligárquica do poder do Estado, produzindo um dos fenômenos mais contrários à democracia, qual seja, o que Alberto Dines chamou de "coronelismo eletrônico", isto é, a forma privatizada das concessões públicas de canais de rádio e televisão, concedidos a parlamentares e lobbies privados, de tal maneira que aqueles que deveriam fiscalizar as concessões públicas se tornam concessionários privados, apropriando-se de um bem público para manter privilégios, monopolizando a comunicação e a informação. Esse privilégio é
um poder político que se ergue contra dois direitos democráticos essenciais: a isonomia (a igualdade perante a lei) e a isegoria (o direito à palavra ou o igual direito de todos de expressar-se em público e ter suas opiniões publicamente discutidas e avaliadas). Numa palavra, a cidadania democrática exige que os cidadãos estejam informados para que possam opinar e intervir politicamente e isso lhes são roubado pelo poder econômico dos meios de comunicação.



As minhas palavras partem de um desabafo de alguém que ama o que faz, mas que vê tudo que acredita, que é a educação com direito a descoberta, a consciência do conhecimento, o empenho pelo saber e a partilha do aprendizado irem pelo ralo do esgoto construído com mentiras. Vemos que o país sempre teve e continua tendo governos para favorecerem ao capitalismo. A presidente falou que o desenvolvimento do Brasil está montado sob "três palavrinhas mágicas: estabilidade, crescimento e inclusão" – E aí pensamos ser a estabilidade da riqueza, crescimento do capitalismo e inclusão da alienação. Porque, de fato, a realidade é outra. A presidente disse ainda que o Brasil tem conseguido crescer e distribuir renda, mas acho que a renda, da qual ela fala deve ser as dezenas de bolsa esmola que agem como esparadrapo em cima de ferida aberta.
Ela falou de economia, competitividade, desenvolvimento etc. etc. etc. mas, ao pronunciar a palavra educação, o fez ligando-a à criação de indústrias e de tecnologias, como se o conhecimento só existisse em função disso. Uma verdade irrefutável é a de que ninguém dá o que não tem e parece que nossa presidente não deve ter nada a dizer sobre isso, porque a educação no Brasil está numa situação lamentável. Dilma chama a competitividade de conceito, então se vê que o conceito do Brasil, bem como de todos os brasileiros não é o estado de bem estar social, mas a competividade, isso, com certeza, tende a mostrar que para entrar no mercado de trabalho, se levar a sério a teoria darwiniana, vamos ter uma mortandade para sobreviver o mais forte, isso quer dizer que os pobres, a classe trabalhadora, os professores, entre outros, estão fadados a o desaparecimento?
Ela diz que competitividade é baixar custos e gerar emprego e renda, a renda para a indústria que cresce cada vez mais e o subemprego para o pobre, cada vez mais escravizado. Portanto foi dito tudo: indústria, indústria, indústria; produção, produção, produção; capital, capital, capital. Educação zero, saúde, natureza e maio ambiente? Será que é importante falar sobre isso? É engraçado que até a queda do preço de energia é para favorecer a indústria, engana-se o povo com 16% e quem pode realmente pagar pelo que gasta, que não é pouco, recebe o desconto de 28%. Nós economizamos porque não podemos pagar e quem realmente pode pagar tem o direito de gastar e ainda ser beneficiado por isso. E mais uma vez vem a palavra competitividade.
É nesse sentido que ela trabalha a educação, uma indústria. Aplica o FIES, barateia o custo para as faculdades particulares que não investem nas ciências humanas e deixa as universidades publicas sucateadas, especialmente nas áreas de humanas, porque os setores de exatas e de tecnologia nem parecem fazer parte das mesmas universidades. Sabemos também que todo investimento prometido em rodovias, ferrovias e aeroportos não é para brasileiro, pois se assim fosse, essa medida já teria sido efetivada há tempos, os olhos estão direcionados exclusivamente para a copa do mundo e para as olímpiadas, ou seja, para os estrangeiros que passarão pelo Brasil, é lavar a casa e arrumá-la para o visitante.
É lógico que toda moeda tem dois lados, temos aí alguns benefícios para o país, o que questionamos é que os benefícios não são pensados a partir das classes "inferiores" , pois dessas classes, se cala a boca com os "auxílios de vida" . O brasileiro de classe média, esse nem é cogitado, tudo é pensado a partir do capital e para benefício dele.
 
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