quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
desculpas pel ausência
Gostaria de me desculpar pela longa ausência, tive alguns problemas, mas já estão com a solução em andamento! Beijos e obrigada pela compreensão!
pensamento de Fernando Pessoa
Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Até quando?
Até quando vamos ter aguentar os ataques entre adversários políticos que, durante a campanha eleitoral esquecem a verdadeira finalidade da exposição de suas imagens e passam a atacar uns aos outros nas suas pessoalidades? Onde ficou a essência da palavra democracia, se passamos todo o tempo de ouvidos e olhos cheios de manipulações baratas que só alienam e em nada contribuem para um melhor entendimento político por parte da população? Até quando temos que presenciar farsas como o toque de uma bolinha de papel que tem o efeito de uma bola de chumbo na mídia falsa e parcial desse país? Porque cada um dos candidatos não faz sua proposta de governo e espera que o povo, ao julgá-las, juntamente com as açõe políticas desses candidatos, vote e faça valer sua cidadania?
O que se vê no segundo turno das eleições para presidente do Brasil é uma verdadeira guerra em que a ética e a moral que, segundo aristóteles, deveria direcionar a política, são aniquiladas pela ganância do poder pelo poder. Um forte abraço!!
O que se vê no segundo turno das eleições para presidente do Brasil é uma verdadeira guerra em que a ética e a moral que, segundo aristóteles, deveria direcionar a política, são aniquiladas pela ganância do poder pelo poder. Um forte abraço!!
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Entrevista de Helder pinheiro à Revista da cultura
A seguir uma pequena parte da entrevista que o professor Helder Pinheiro (UFCG e UFPB) deu à Revista da Cultura, é uma provocação para que os enteressados a busquem na íntegra, pois vale a pena. Abraços!!!
A poesia infantil ainda é dependente da escola? Como os pais podem trazê-la para o cotidiano? Por que há tanta dificuldade nesse aspecto?
Acho difícil pedir alguma coisa aos pais que, em sua maioria, não leem poesia. Mas todos tiveram infância e poderiam buscar na memória os jogos, as brincadeiras poéticas, as estrofes que por ventura aprenderam e transmiti-las às crianças. Sobretudo nesta fase pré-escolar. Os pais que podem comprar livros poderiam ler mais com os filhos, brincar com a linguagem, encenar com as crianças, fazer jogos dramáticos com elas a partir de histórias e poemas. José Paulo Paes lembra que “Poesia/ é brincar com palavras/ como se brinca/ com bola, papagaio, pião”. Deixar-se contaminar pela poesia, não procurar interpretá-la, tirar lição de moral. Simplesmente ler, ler e brincar. E repito: ler sempre, não apenas uma vez ou outra. Quanto às dificuldades, elas nascem da pouca familiaridade de professores com a poesia e do desconhecimento de metodologias mais lúdicas, que favoreçam a interação das crianças com os poemas.
A forma como a escola apresenta a poesia à criança é pouco atrativa?
Há no mercado excelentes obras sugerindo modos de aproximar a criança da poesia de maneira mais sensível. O problema é que muitas vezes a escola associa a poesia aos conteúdos a serem aprendidos e não à vivência da oralidade, do ritmo. Há livros do segundo ano do fundamental preocupados em fazer a criança aprender o que é verso, o que é rima, etc. Ou seja, quer-se ensinar um conteúdo teórico sobre poesia, ao invés de possibilitar um maior tempo de convivência com ela. Sem falar no fato de que os livros didáticos continuam trazendo poemas para estudar ortografia e outras barbaridades. Muitas vezes as crianças têm nos primeiros cinco anos do fundamental uma vivência até rica com a poesia, mas a partir do sexto ano, começa a rarear. É preciso cultivá-la sempre, todos os anos, todas as fases e sempre com poemas que, de algum modo, atendam ou questionem o horizonte de expectativas do leitor. Mas há outras questões que interferem – não vamos sempre querer culpar a escola. Quantos programas de TV e rádio se voltam para a poesia de um modo atraente? Onde está a poesia nos espaços de nossas cidades? Como são nossas bibliotecas? Que livros de poemas são apresentados aos jovens? E já viram a pobreza do mercado editorial da poesia se comparado à narrativa em geral, à auto-ajuda?
A poesia infantil ainda é dependente da escola? Como os pais podem trazê-la para o cotidiano? Por que há tanta dificuldade nesse aspecto?
Acho difícil pedir alguma coisa aos pais que, em sua maioria, não leem poesia. Mas todos tiveram infância e poderiam buscar na memória os jogos, as brincadeiras poéticas, as estrofes que por ventura aprenderam e transmiti-las às crianças. Sobretudo nesta fase pré-escolar. Os pais que podem comprar livros poderiam ler mais com os filhos, brincar com a linguagem, encenar com as crianças, fazer jogos dramáticos com elas a partir de histórias e poemas. José Paulo Paes lembra que “Poesia/ é brincar com palavras/ como se brinca/ com bola, papagaio, pião”. Deixar-se contaminar pela poesia, não procurar interpretá-la, tirar lição de moral. Simplesmente ler, ler e brincar. E repito: ler sempre, não apenas uma vez ou outra. Quanto às dificuldades, elas nascem da pouca familiaridade de professores com a poesia e do desconhecimento de metodologias mais lúdicas, que favoreçam a interação das crianças com os poemas.
A forma como a escola apresenta a poesia à criança é pouco atrativa?
Há no mercado excelentes obras sugerindo modos de aproximar a criança da poesia de maneira mais sensível. O problema é que muitas vezes a escola associa a poesia aos conteúdos a serem aprendidos e não à vivência da oralidade, do ritmo. Há livros do segundo ano do fundamental preocupados em fazer a criança aprender o que é verso, o que é rima, etc. Ou seja, quer-se ensinar um conteúdo teórico sobre poesia, ao invés de possibilitar um maior tempo de convivência com ela. Sem falar no fato de que os livros didáticos continuam trazendo poemas para estudar ortografia e outras barbaridades. Muitas vezes as crianças têm nos primeiros cinco anos do fundamental uma vivência até rica com a poesia, mas a partir do sexto ano, começa a rarear. É preciso cultivá-la sempre, todos os anos, todas as fases e sempre com poemas que, de algum modo, atendam ou questionem o horizonte de expectativas do leitor. Mas há outras questões que interferem – não vamos sempre querer culpar a escola. Quantos programas de TV e rádio se voltam para a poesia de um modo atraente? Onde está a poesia nos espaços de nossas cidades? Como são nossas bibliotecas? Que livros de poemas são apresentados aos jovens? E já viram a pobreza do mercado editorial da poesia se comparado à narrativa em geral, à auto-ajuda?
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
CONINFA
Gostaria de informar e convidar a todos os interessados em eventos culturais para passar em Paulo Afonso-BA, entre os dias 22 e 25, de setembro quando acontecerá o CONINFA, Congresso Interdisciplinar da Fasete - faculdade Sete de Setembro. É um evento que abrange várias áreas do conhecimento e contará com a presença de pessoas importantes e palestrantes ligados as áreas de Administração, Letras, Direito, Sistemas de informação, entre outros. No sábado haverá mini cursos com abordagens de diversosos assuntos. Sejam bem vindos!
ENG
Estive no Encontro Nacional de Geógrafos, em Porto Alegre. Foi um evento interessante e bastante proveitoso no que se refere ao conhecimento, uma vez que pude ampliar meu olhar na linha de pesquisa que desenvolvo atualmente: a Ecocrítica. Tabalho com literatura e procuro observar as representações da natureza através do texto literário, por isso o interesse na área da Geografia. Ressalta-se mais uma vez a importância da interdisciplinaridade, pois um conhecimento não se faz por si só, é necessário que esteja atrelado a outros para se constituir de forma plena embora tenhamos a certeza da sua infinitude.
abraços!!
abraços!!
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Sobre literatura
A literatura é uma representação, por outro viés, da realidade. Essa via seria a palavra. A arte participa da vida do sujeito como um todo, de certa forma é uma incursão na vida religiosa, social, cultural, espiritual, psicológica e intelectual do homem. A literatura, assim como toda forma de arte é autônoma, tem suas próprias leis linguísticas, sociais e textuais. (Socorro Almeida)
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Para refletir
Os homens estimam-vos conforme a vossa utilidade, sem terem em conta o vosso valor. (Honoré de Balzac)
Até que o sol não brilhe, acendamos uma vela na escuridão. (Confúcio)
Um nobre exemplo torna fáceis as ações difíceis. (Johann Goethe)
Triste não é mudar de idéia. Triste é não ter idéia para mudar. (Francis Bacon)
A televisão é maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana. (A. Torelly -Barão de Itararé)
Rir de tudo é coisa dos tontos, mas não rir de nada é coisa dos estúpidos. (Erasmo de Rotterdam)
Bjs!!
Até que o sol não brilhe, acendamos uma vela na escuridão. (Confúcio)
Um nobre exemplo torna fáceis as ações difíceis. (Johann Goethe)
Triste não é mudar de idéia. Triste é não ter idéia para mudar. (Francis Bacon)
A televisão é maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana. (A. Torelly -Barão de Itararé)
Rir de tudo é coisa dos tontos, mas não rir de nada é coisa dos estúpidos. (Erasmo de Rotterdam)
Bjs!!
OS VIAJANTES E O URSO _ ESOPO
Só para você pensar com quem está andando ok!!
OS VIAJANTES E O URSO _ ESOPO
Um dia dois viajantes deram de cara com um urso. O primeiro se salvou escalando uma árvore, mas o outro, sabendo que não ia conseguir vencer sozinho, o urso, se jogou no chão e fingiu-se de morto. O urso se aproximou dele e começou a cheirar sua orelha, mas, convencido de que estava morto, foi embora. O amigo começou a descer da árvore e perguntou: _O que o urso estava cochichando em seu ouvido? _Ora, ele só me disse para pensar duas vezes antes de sair por aí viajando com gente que abandona os amigos na hora do perigo.
Moral da história: A desgraça põe à prova a sinceridade e a amizade
Beijão e até a próxima!
OS VIAJANTES E O URSO _ ESOPO
Um dia dois viajantes deram de cara com um urso. O primeiro se salvou escalando uma árvore, mas o outro, sabendo que não ia conseguir vencer sozinho, o urso, se jogou no chão e fingiu-se de morto. O urso se aproximou dele e começou a cheirar sua orelha, mas, convencido de que estava morto, foi embora. O amigo começou a descer da árvore e perguntou: _O que o urso estava cochichando em seu ouvido? _Ora, ele só me disse para pensar duas vezes antes de sair por aí viajando com gente que abandona os amigos na hora do perigo.
Moral da história: A desgraça põe à prova a sinceridade e a amizade
Beijão e até a próxima!
sexta-feira, 18 de junho de 2010
A CONTRA-IDEOLOGIA NO DISCURSO DE JOSÉ SARAMAGO
OBS. Este trabalho foi pulicado pela Revista Rios Eletrônica da Faculdade Sete de Setembro, em Paulo Afonso-BA- 2007 páginas 29 a 38. Hoje me sinto no dever de compartilhar com os meus visitantes uma homenagem aquele que foi um dos maiores ícones da literatura contemporânea.
A CONTRA-IDEOLOGIA NO DISCURSO DE JOSÉ SARAMAGO
Maria do Socorro Pereira de Almeida
Mestre em Literatura e Interculturalidade pela UEPB; especialista em literatura brasileira pela UFPE. Professora de Graduação e Pós-Graduação da Faculdade Sete de Setembro, em Paulo Afonso- BA.
RESUMO
Esse trabalho propõe um olhar sobre a obra de José Saramago no intuito de observar, através da ação discursiva, a transgressão à ideologia social tanto no que condiz ao modo de escrever quanto a idealização da figura feminina. Toda obra se define como ideológica quando cumpre o código vigente, reproduzindo os princípios de uma época, região, geração, língua ou movimento. Da mesma forma a arte é contra-ideológica quando se afasta do código estético ou conteudístico vigente e promove seus próprios referentes. Ao ler uma narrativa o leitor espera se deparar com uma linguagem formal, já pré-estabelecida por uma convenção artística e social. Ao quebrar essa formalidade a obra torna-se contra-ideológica, diferente, e é assim que se caracteriza a obra de José Saramago, que traz a oralidade e o que poderia se chamar de desvios lingüísticos como gírias, expressões populares, interjeições e ditos que só a linguagem oral permitiria. Para cumprir a proposta buscamos as obras Memorial do Convento, Ensaio Sobre a Cegueira e O Evangelho segundo Jesus Cristo. Esclarece-se que nas citações, essas obras estarão expostas pela sigla, sendo respectivamente M.C; E.S.C. e E.S.J.C para tornar melhor a fruição da leitura.
Palavras-chave: Discurso, contra-ideologia, José Saramago
ABSTRACT
This paper proposes a look at the work of José Saramago in order to observe by means of discursive action, the transgression of the social ideology that is consistent both in the way of writing about the idealization of the female figure. Every work is defined as ideological when it meets the current code, reproducing the principles of an era, region, generation, language or movement. Likewise, the art is counter-ideological when it departs from the aesthetic code or content force and promotes its own measures. While reading a story the reader expect to run into a formal language, as predetermined by an artistic and social convention, but this step by breaking the work becomes counter-ideology, different, and that is how it characterizes the work of José Saramago, which shows the orality and what might be called linguistic differences as slang, expressions of popular, interjections and said that only oral language would allow. For the fulfillment of proposal we tried to work the Memorial do Convento, Blindness and The Gospel According to Jesus Christ. It is clarified that in quotes, these works will be exposed by the initials, and MC respectively; ESC and ESJC to make better the enjoyment of reading.
Keywords: Speech, counter-ideology, José Saramago
A CONTRA-IDEOLOGIA EM JOSÉ SARAMAGO
O discurso de José Saramago se constitui num dizer especial e único, a ironia é um dos requisitos preferidos pelo o autor. A sua forma de mostrar o mundo e os homens, na sua intricada relação, assim como a condição de “ser”, são fatores que farão a diferença entre ele e os demais autores. A relação do narrador saramaguiano com o leitor é de uma intimidade de vizinhos ou companheiros de uma mesma situação de ser e estar no mundo, pois o narrador convida o leitor, durante todo o tempo, para observar o mundo através de seus olhos.
A condição humana dada aos personagens também é um fato interessante a ser observado pela maneira como se revelam na narrativa, como é o caso da rainha, D. Maria Ana e de Blimunda, em Memorial do Convento, a condição de mulher que cada uma expressa e suas capacidades como seres humanos. Com a mesma naturalidade revela-se esse aspecto também em Ensaio sobre a Cegueira.
A partir do exposto procura-se nas obras do referido autor evidenciar a oralidade, a desconstrução da linearidade do discurso, a subversão gramatical e a contra-ideologia encontrada nas entrelinhas, no que se refere aos preceitos sociais, históricos e religiosos que são desconstruídos ao longo das narrativas. Mostram-se também semelhanças e diferenças estruturais e estilísticas diante das demais obras, uma vez que “a ideologia e contra-ideologia devem ser confirmadas não apenas no nível do enunciado, mas principalmente, no nível da enunciação.” (SANT’ANNA, 1984, p. 54).
Como grande escritor consagrado, dono de uma vasta obra e de vários gêneros como romance, teatro, crônica e poesia, Saramago é o primeiro Nobel em Literatura de Língua portuguesa, dessa forma, um cânone do seu nível é idealizado como nobiliárquico da literatura em todos os sentidos, mas é exatamente a diferença, a subversão, a ironia genial que o faz especial. Sendo assim, esse estudo procura mostrar a contrariedade ideológica na obra do autor no tocante à forma do discurso, a estrutura textual e a sua visão de mundo.
Saramago é, antes de tudo, subversivo, autônomo e singular dentro da narrativa, além de possuir um poder de ironia que poucos conseguem alcançar com tanta sutileza, graça e arrojo ao mesmo tempo. O olhar crítico dele para com o ser humano e suas fraquezas espirituais vão ao limite do ego do leitor, provocando um prazer inquietante pela forma instigante do discurso utilizado.
As concepções de textos e discursos provocam confusões na hora de tratar desses aspectos, esta confusão é provocada, entre outras coisas, pelo fato de, em algumas línguas como holandês e alemão não existir o termo discurso, dessa forma o termo texto abrangeria os dois aspectos, mudando seu direcionamento para gramática de texto e lingüística de texto. No objetivo de dirimir o mal estar causado na diferenciação dos sentidos desses termos, criaram-se duas denominações diferentes que seriam texto e discurso.
Ingdore Villaça Koch, em Lingüística Textual (2000), faz uma alusão acerca desse problema, colocando posições de alguns estudiosos como Van Dijk, para o qual, o discurso é a unidade passível de observação, aquela que é interpretada na enunciação, seja ela escrita ou falada. Já o texto não se manifesta, é a estrutura que contém o discurso. Entre as discussões acerca desse assunto, salienta-se que o texto é tudo que é manifestado pelo ser humano de forma oral, escrita, visual ou simbólica e o discurso é aquilo que se ler dentro do texto.
O discurso tem uma autonomia, ou seja, pode estar exposto em diferentes formas e estilos, de acordo com o procedimento intencional do emissor, tendo em vista que o discurso é manipulado lingüística e semanticamente, para alcançar o seu objetivo no texto.
Esse procedimento intencional de manipulação do discurso e a subversão gramatical são aspectos observados em José Saramago, pela sua forma especial de comportamento narrativo e de inter-relação com o leitor, o que provoca uma parceria narrativa como se o leitor estivesse junto com o narrador, em uma janela, vendo a narrativa se desenrolar, ao mesmo tempo em que esse narrador faz suas observações para o interlocutor-leitor de forma direta e através de uma oralidade que transcende o papel. O narrador saramaguiano é multifuncional, ele possui uma versatilidade de alguém que não só vê, mas também observa, comenta, interpreta, relata e escreve como se observa nos fragmentos a seguir:
Não faltará já por aí quem esteja protestando que semelhantes miudezas exegéticas em nada contribuem para a inteligência de uma história afinal arquiconhecida, mas ao narrador deste evangelho não parece que seja a mesma coisa, tanto no que toca ao passado como no que ao futuro há-de tocar [...]. (E.S.J.C, 2003, p. 127).
[...] O remorso de Deus e o remorso de José eram um só remorso, e se naqueles antigos tempos já se dizia, Deus não dorme, hoje estamos em boas condições de saber porquê, Não dorme porque cometeu uma falta que nem a homem é perdoável. (E.S.J.C, 2003, p. 131).
Observa-se que o narrador além de irônico, é um revolucionário que ousa desafiar tanto as convicções sociais quanto religiosas. Ele provoca o leitor, o insulta e ao mesmo tempo se faz cúmplice dele nas reflexões sobre o que está sendo narrado a partir do momento que ele se junta ao leitor quando usa, por diversas vezes, em todas as suas obras, a primeira pessoa do plural, dessa forma ele se iguala ao leitor e partilha com ele as angústias e os conflitos numa troca recíproca de papeis.
Uma das características marcantes na obra saramaguiana é, sem dúvida, a construção da oralidade ligada a um discurso torrencial que, pela ausência de pontuação, “carrega” o leitor dentro de uma maratona lingüística. O próprio autor admite esse poder de oralidade e a especificidade de seu discurso quando diz:
[...] provêm de um princípio básico segundo o qual todo o dito se destina a ser ouvido. Quero com isso significar que é como narrador oral que me vejo quando escrevo e que as palavras são por mim escritas tanto para serem lidas como para serem ouvidas. Ora, o narrador oral não usa pontuação, fala como se estivesse a compor música e usa os mesmos elementos que o músico: sons e pausas, altos e baixos, uns, breves ou longas, entre outras coisas. (SARAMAGO, 1997, p. 223).
A narrativa de Saramago traz o narrador e o romancista que se unem ao leitor para refletirem conforme o narrador vai induzindo esse interlocutor a descobrir o seu ponto de vista acerca do que está expondo, tendo em vista que uma das perspectivas de Saramago é a intertextualidade histórica, como é o caso de Memorial do Convento e O Evangelho segundo Jesus Cristo, com as quais abre espaço para seu olhar crítico e sua incomparável ironia, ao mesmo tempo em que tenta resgatar os valores humanos já perdidos.
A linguagem, como diz Bagno (2003), é a força que anima toda humanidade que, dividida em grupos, possui culturas e diferentes ideologias para expressão desse fenômeno. Dentre as várias expressões está a Literatura, que enforma um conteúdo lingüístico vigente culturalmente, em cada época e região e, portanto, trazendo as perspectivas ideológicas dos padrões a serem seguidos dentro de um discurso literário. Segundo Bakhtin (2002, p. 30), “a forma e o conteúdo estão unidos no discurso, entendido como fenômeno social social em todas as esferas de sua existência e em todos os momentos, desde a imagem sonora até os extratos semânticos mais abstratos”.
Sendo o discurso um fenômeno, também social e guardando perspectivas a cerca dessas convenções, a estilística vem evidenciar a individualidade do sujeito na ação discursiva, seja ela poética ou narrativa e mostrar as preferências harmônicas individuais do estilo, ignorando o pré-estabelecido pelas convenções sociais, lingüísticas e estruturais.
Um produto ideológico faz parte de uma realidade natural e social. A língua como processo natural (fala) e artificial (escrita) também compõe o universo ideológico de uma sociedade assim como o signo que traz a relação sintático-semântica do que apresenta. O signo apresenta um objeto que, por sua vez, apresentará um significado que, de acordo com a manipulação usada entre o referente e o referido terá, no universo ideológico, significados diferenciados pela semântica. O pão vendido na padaria como produto de consumo não tem o mesmo valor semântico ideológico do pão oferecido na missa como corpo de Cristo. Dessa forma o signo carrega o valor de acordo com a manipulação lingüística que é apresentado. Como afirma o próprio Bakhitin: “O domínio ideológico coincide com o domínio do signo; são mutuamente correspondentes. Ali onde o signo se encontra, encontra-se também o ideológico. Tudo que é ideológico possui um valor semiótico.” (2002, p. 32).
Nesse caso o discurso traz o signo manipulado lingüisticamente e dessa manipulação se registra o entendimento semântico e o valor do signo no contexto lingüístico, conforme a intenção do autor do enunciado. Assim o significado ideológico de um signo pode ser reforçado ou desconstruído de acordo com a relação leitor-discurso textual.
Como já foi dito anteriormente o discurso revela, entre outras coisas, a realidade de uma época. Com o passar do tempo os destinos do discurso literário sofreram modificações estilísticas por artistas e tendências individuais. Na contemporaneidade a arte, além de abrir-se para receber aspectos de todas as tendências, abre um vago para a solidão do estilo, e torna-se um complexo de estilos em que, cada autor tem a sua singularidade de acordo com os próprios olhos ao observar o mundo, como a busca do já existente para uma nova forma. Assim posto, percebe-se que, para entender as obras de Saramago, é preciso considerar fatores histórico-sociais, intrinsecamente ligados ao seu estilo narrativo como é o caso das obras aqui analisadas.
Berardi (2003) afirma que na compreensão do discurso se incluem todas as formas de conhecimento humano que formam o processo organizacional social. Assim, a análise crítica do discurso e suas relações com as distintas formas de conhecimentos sociais e linguísticos, além de contribuírem para explicação da linguagem humana, mostra que o conhecimento e o processo cognitivo são fatores inclusos na atividade comunicativa, pois a linguagem é a parte essencial do conhecimento e do processo de interação comunicativa no âmbito social, cultural e intelectual, uma vez que esses aspectos vão ser evidenciados na ação discursiva.
Por outro lado Genett (1995) considera que, ao analisarmos a narrativa, nos deparamos com os problemas mais diversos, como ponto de vista, a modalidade da descrição, o modo de construção do personagem, o registro utilizado no chamado “monólogo interior”. Na obra de José Saramago quase tudo é relevante, mas algumas coisas chamam atenção de modo gritante, como a construção dos personagens, o diálogo e o ponto de vista. No primeiro caso o autor se destaca tanto na forma como trata seus personagens e a posição desses na obra, especialmente quando se trata da figura feminina como é o caso de Blimunda (M. do Convento); da Mulher do Médico (Ensaio sobre a cegueira) e de Maria de Magdala (Evangelho Segundo Jesus Cristo), como no discurso montado para esses personagens, pois esses discursos são a chave de toda criticidade e o posicionamento do autor perante a sociedade e o mundo, assim como sua posição perante as “leis ditas divinas”.
No segundo caso a questão do ponto de vista não é diferente, pois o narrador, intruso e cambiante, atravessa toda obra ao lado do leitor, e durante toda narrativa o leitor é pego por uma torrencial chuva de argumentos que o faz ver com os olhos desse narrador. Um discurso seguro, irônico, verdadeiro e, sobretudo, aberto, falando de igual para igual, pois a oralidade permite mais essa faceta:
Se o cego encarregado de escriturar os ilícitos ganhos da camarata dos malvados tivesse decidido, por efeito de uma iluminação esclarecedora do seu duvidoso espírito, passar-se para esse lado com os seus tabuleiros de escrever, o seu papel grosso e o seu punção, certamente andaria agora ocupado em redigir a instrutiva e lamentável crônica do mal passadio e outros muitos sofrimentos destes novos e espoliados companheiros. Começaria por dizer que de lá de onde tinha vindo, não só os usurpadores haviam expulsado da camarata os cegos honrados, para ficarem donos e senhores eles de todo o espaço como haviam, ainda por cima, proibido aos ocupantes de outras duas camaratas da ala esquerda o acesso e a serventia das respectivas instalações sanitárias [...]. (E.S.C. 2002, p. 159)
Saramago, através da cegueira, tenta trazer luz à consciência humana, tenta fazer o homem ver o mundo e olhar quem está ao seu lado, há uma força moral nos diálogos dos personagens que faz o leitor se sentir cúmplice da situação social em que se encontra o mundo: “E tu, como queres tu que continue a olhar para estas misérias, tê-las permanentemente diante dos olhos, e não mexer um dedo para ajudar”, [...] (E.S.C. 2002, p. 135). Na mesma perspectiva o autor mostra a cegueira da luta pelo poder e como, muitas vezes, é mais cômodo estarmos cegos e até surdos e mudos em relação ao mundo, a ter que presenciar coisas que causam revolta. Diante disso há dois caminhos: ou a isenção, através da cegueira ou o protesto, lutando com as armas que tem, no caso do autor, a literatura, através da qual expõe sua indignação perante as anormalidades que se tornam normais, porque de tanto vivê-las, nos acostumamos com elas:
Alguns irão te odiar por veres, não creias que a cegueira nos tornou melhores, Também não nos tornou piores, Vamos a caminho disso, vê tu o que se passa quando chega a altura de distribuir a comida, Precisamente uma pessoa que visse poderia tomar a seu cargo a divisão dos alimentos por todos os que estão aqui, fazê-lo com equidade, com critério, deixaria de haver protestos, acabariam essas disputas que me põem louca, tu não sabes o que é ver dois cegos a lutarem, Lutar foi sempre, mais ou menos, uma forma de cegueira, isto é diferente, Farás o que melhor te parecer, mas não te esqueças daquilo que nós somos aqui, cegos, simplesmente cegos, cegos sem retóricas nem comiserações, o mundo caridoso e pitoresco dos ceguinhos acabou, agora é o reino duro, cruel e implacável dos cegos, Se tu pudesses ver o que sou obrigada a ver, quererias estar cego. (E.S.C. 2002, p. 135). Grifo nosso.
Observa-se que numa desobediência gramatical de pontualidade, fazendo com que o leitor não interrompa a leitura, o autor traz o mundo para dentro de um manicômio para mostrá-lo melhor ao leitor. Dentro de um “não lugar” e um “não tempo”, a narrativa se desenrola evidenciando o mundo em qualquer lugar, pois o mundo se faz também de seres humanos e esses, são iguais em toda parte.
A parte grifada na citação traz a abrangência de sentidos que há na frase, dois cegos a lutarem, dois homens sem consciência de ser, que a cegueira não deixa que vejam um ao outro e sim só o interesse de cada um. Depois guerras, a imbecilidade das guerras, a inutilidade de se tirar vidas de semelhantes quando a luta deveria ser em prol um do outro. Por outro lado muitos que “vêem” fingem estarem cegos para não se comprometerem, não perderem a comodidade na vida, ou seja, não comprar briga em prol de quem não irá alcançar o verdadeiro teor da “guerra”. Ainda percebe-se que, pela impotência de mudança, muitos realmente prefeririam estar cegos.
Voltando ao discurso, de acordo com Genett (1995), quando a discussão é sobre uma determinada obra, é o discurso, ou seja, é a narrativa enquanto discurso e não a narrativa enquanto história que está em causa. Aspectos de ordenação, não em torno de encadeamentos, mas em torno da percepção de sentido desses encadeamentos, por outras palavras, o estudo da articulação temporal, e já na lógica da narrativa. À luz de Genette consegue-se dizer o que realmente chama a atenção, o que prende o leitor e o que tem de mais contagiante na obra de Saramago. Toda obra saramaguiana deve ser vista sob o aspecto também discursivo, pois no autor de As Intermitências da morte o mais importante não é o que se conta, mas o como se conta, é o que se vê a seguir em um dos fragmentos de O Evangelho segundo Jesus Cristo:
[...] não podemos afirmar que Maria Madalena tivesse sido, de facto, loura, apenas nos estamos enconformando com a corrente de opinião maioritária que insiste em ver nas louras, tanto as de natureza como as de tinta, os mais eficazes instrumentos de pecado e perdição. Tendo sido Maria Madalena, como é geralmente sabido, tão pecadora mulher, perdida como as que mais o foram, teria também de ser loura para não desmentir as convicções, em bem e em mal, adquiridas, de metade do gênero humano. (E.S.J.C, 2003, p. 9).
A ironia com que o autor fala da concepção da loira na sociedade em geral é gritante. O autor poderia usar outros exemplos para isso, mas a figura de Maria Madalena é, sem dúvida, uma maneira de ser realmente transgressor, de ir direto e rapidamente ao leitor e extrair dele a reflexão sobre os conceitos ou pré-conceitos de uma sociedade hipócrita e de falsa moral. A intencionalidade narrativa se revela nas entrelinhas, através do uso das palavras e de como coloca a figura de Madalena, é a maneira de dizer que faz a diferença e açambarca o leitor para o texto de forma extasiante.
No que se refere a figura feminina a contra-ideologia de Saramago transcende as linhas do texto. Enquanto o mundo vive, há séculos, numa sociedade patriarcal, é à mulher que ele vai dar a palavra, os olhos para ver além e guiar a humanidade e a sabedoria para isso. Em O Evanhelho segundo Jesus Cristo observa-se em Maria de Magdala, não apenas uma prostituta, mas uma mulher, ou seja, o autor mostra nela além do que permite a convicção imaginária da sociedade, dar-lhe uma alma, personalidade e caráter; dar-lhe também a sabedoria para aconselhar Jesus, como se vê no momento da morte de Lazaro:
[...] só falta que Jesus, olhando o corpo abandonado pela alma, estenda para ele os braços como o caminho por onde ela há de regressar, e diga, Lázaro levanta-te, e Lázaro levantar-se-á, porque Deus o quis, mas é nesse instante, em verdade o último e derradeiro, que Maria de Magdala põe uma mão no ombro de Jesus e diz, Ninguém na vida teve tantos pecados, que mereça morrer duas vezes, então Jesus deixou cair os braços e saiu para chorar. (E.S.J.C, 2003, p. 428).
O autor mais uma vez desconstrói a convicção humana em relação a esse momento, é como se Jesus se deixasse cegar pela ambição de mostrar seu poder e não tenha pensado verdadeiramente em Lázaro, isso é perceptível na fala de Maria de Magdala. Nesse contexto observa-se a contra-ideologia do autor em relação às convicções sócio-religiosas.
Outro aspecto relevante no autor português é, sem dúvida, a tentativa de evidenciar o homem como ser cultural e social no mundo, sua função enquanto indivíduo, suas fraquezas enquanto ‘produto’ do meio e seu papel enquanto ser de uma sociedade unificada em que as relações giram em torno do “ter” e do poder. Em Memorial do Convento destacam-se dois mundos: o da nobreza, representado pelo rei D. João V e sua família e os integrantes da Igreja e o outro mundo onde estão Blimunda, Baltazar e o Padre Bartolomeu de Lourenço, representantes do povo. Nessa perspectiva evidencia-se, ironicamente, as condições de injustiças e as práticas sociais que, muitas vezes, ficam as escondidas:
Dizem que o reino anda mal governado, que nele está menos a justiça, e não reparam que ela está como deve estar, com sua venda nos olhos, sua balança e sua espada.[...] Dos julgamentos do santo ofício não se fala aqui, que esse tem bem abertos os olhos, em vez de balança, um ramo de oliveira e uma espada afiada.[...] há quem julgue que o raminho é oferta de paz, quando está muito patente que se trata do primeiro graveto da futura pilha de lenha, ou te corto ou te queimo, por isso é que, havendo que falar à lei, mais vale apunhalar a mulher por suspeita de infidelidade, que não honrar os fiéis defuntos, a questão é ter padrinhos que desculpem o homicídio e mil cruzados para por na balança, nem é para outra coisa que a justiça a leva na mão. (M.C. 2003, p. 182).
A par dessa questão, Moscovici apud Berardi (2003) diz que a compreensão das representações sociais pode se estender ao caráter social do conhecimento quando se pretende explicar sobre o conhecimento social e o papel destas formas de construção cultural a partir do discurso. Saramago vai partir exatamente do discurso para fazer emergir essa compreensão social e cultural e acessibilizá-la ao leitor:
Tinha sangue nas mãos e na roupa, e subtamente o corpo exausto avisou-a de que estava velha, Velha e assassina, pensou, mas sabia que se fosse necessário tornaria a matar, E quando é que é necessário matar, perguntou a si mesma enquanto ia andando na direção do átrio, e a si mesma respondeu, Quando já está morto o que ainda é vivo, [...]. (E.S.C. 2002, p. 189).
Essa cena de Ensaio sobre a cegueira mostra o momento em que a mulher do médico volta da camarata dos cegos violadores, após ter matado o líder. Ela reflete sobre as próprias atitudes, não imaginava chegar a esse ponto, mas conclui que o que está morto deve ser tirado do convívio, assim se faz quando se enterra os mortos. Nessa perspectiva observa-se que o cego estava morto em vida, ele não existia como ser, para o mundo dos humanos ele já se fazia cadáver. Esses aspectos remetem a um a Fernando Pessoa em um dos poemas que compõe a obra Mensagem, em que mostra que a inconsciência de mundo faz do homem um “cadáver adiado que procria”.
Na contemporaneidade, a estilística foge ao destino sociológico do discurso em prol da genialidade e da individualidade artística, trazendo uma arte ousada e subversiva. Na maioria dos casos “a estilística apresenta-se como uma arte “caseira” que ignora a vida social do discurso fora do atelier do artista. A estilística ocupa-se não com a palavra viva, mas com seu corte histológico, com a palavra lingüística e abstrata a serviço da maestria do artista” (BAKHTIN, 2002, p. 71). Partindo dessa premissa observa-se na estilística discursiva do autor analisado, a subversão lingüística no tocante a oralidade e a desobediência gramatical na pontuação que se revela numa contra-ideologia carregada de ironia:
Mora o padre cerca do Paço, e ainda bem, pois muito o freqüenta, não tanto por obrigações firmes do seu título de capelão fidalgo, mais honorífico que efetivo, mas por lhe querer bem El rei, que ainda não perdeu de todo as esperanças, e já vão onze anos passados, por isso pergunta benévolo,Verei voar a máquina um dia, ao que o padre Bartolomeu, honestamente, não pode responder mais do que isto, Saiba vossa majestade que a máquina um dia voará, Cá estarei para ver, Viva nossa majestade nem tanto quanto viveram os antigos patriarcas do Testamento velho, e não só verá voar a máquina como nela voará [...]. (M.C. 2003, p. 155)
Um discurso é tecido ou determinado pelo sistema lingüístico sob o qual é formado e as condições que é produzido. Conhecendo-se as condições de produção e o sistema lingüístico é possível observar o processo de produção, analisando-se semanticamente e sintaticamente o discurso em questão. Isso posto, observa-se que Saramago é um escritor contemporâneo e, como tal, usa toda liberdade que lhe é atribuída e comunga também junto com a subversão da contradição dessa arte. A arte contemporânea é contraditória, pois “usa, abusa, instala e depois subverte os próprios conceitos que desafia em qualquer que seja a forma de expressão, essa contradição encontra-se tanto na forma quanto no conteúdo.” (RUTHEON, 1999, p. 19). É, pois, o estilo usado que vai evidenciar esses aspectos.
Assim “A arte pós-moderna afirma de maneira idêntica e depois ataca de maneira deliberada, princípios como valor, ordem, sentido, controle e identidade.” (RUSSEL, 1985. p. 247) Em Saramago essa subversão se evidencia de várias formas tanto no tocante a História, da qual ele se utiliza para evidenciar seu olhar crítico e sua inigualável ironia, como também na subversão às regras e padrões gramaticais e lingüísticos, pois além de não obedecer às normas de produção e de narração entre narrador e personagem ainda abusa da oralidade com a maestria de gênio:
Por baixo do sol vemos um homem nu atado a um tronco de árvore, cingido os rins que lhe cobre as partes a que chamamos prudentas ou vergonhosas e os pés tem nos assentos no que resta de um ramo lateral cortado, porém por maior firmeza, para que não resvalem desse suporte natural, dois pregos os mantêm cravados fundo. Pela expressão da cara, que é de inesperado sofrimento e pela direção do olhar, erguido para o alto, deve ser o bom ladrão.(...). Esta postura solene, este triste semblante só podem ser de José de Arimateia. Ora esse José de Arimateia é aquele bondoso e abastado homem que ofereceu os préstimos de um túmulo para nele ser depositado o corpo principal (...) de certeza que a mulher ajoelhada se chama Maria pois de antemão sabíamos que todas quanto aqui vieram juntar-se usam esse nome [...]. (E.S.J.C., 2003, p.13).
No texto acima de O Evangelho segundo Jesus Cristo, ao usar o verbo ver na primeira pessoa do plural o narrador se coloca ao lado do leitor e pinça da História um fragmento para lançar sua crítica mordaz. A linguagem irônica com que apresenta os personagens e a situação deles faz com que se perceba a crítica ao ideal social de religiosidade e hipocrisia ao mesmo tempo.
No tocante a faceta poética, Saramago, em um dos seus poemas, retoma um dos episódios de Os Lusíadas, fala ao astronauta através de um personagem camoniano, mostrando ousadamente o que o velho do Restelho, por certo falaria, considerando as realidades de acordo com a época atual.
(...) Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de nepalme.
(Saramago, “Os Poemas Possíveis", 1966).
Camões mostrou, através do Velho do Restelho, seu olhar crítico à ganância dos portugueses que arriscavam a vida em busca de glória. Saramago vai, intertextualmente, tendo agora, ao invés de marinheiros, o astronauta como receptor de suas reflexões, usar a rigidez do personagem camoniano para criticar ironicamente a busca exacerbada pelo poder que dá glória para uns enquanto “mata” outros de fome.
No que se refere ao discurso, segundo Bardan (1977, p. 214), este está situado e determinado, também pela posição do emissor e pela sua relação com o receptor, pois ambos compõem os lugares determinados na formação de uma estrutura social e temporal. No discurso do velho do Restelho ao receptor astronauta percebem-se os aspectos econômico e político além de situar o leitor no tempo contemporâneo, através da alusão de armas como a bomba de Nepalme. Dessa forma o discurso nos remete a uma realidade implícita na época retratada pela ação narrativa ou poética, como o diz Bardan:
As condições de produção de um discurso e o sistema lingüístico utilizado são os componentes dessa estrutura profunda e desta matriz que tentaremos descobrir por detrás das variações de superfície. Com efeito as condições de produção funcionam como um princípio de seleção-valorização sobre elementos da língua. (1977, p. 215).
O discurso, portanto, executa a tentativa de fruição e transformação através da língua e a noção de transformação está na manipulação lingüística, que permite a “viagem”, na qual se dá a compreensão semântica. A análise ocorre a partir do descobrimento dos domínios semânticos e suas relações dentro do texto, provocando as descobertas semântica, sintática e lógica e assim, a produção do leitor-escritor, em um jogo de codificação e descodificação que resultará na interação lingüística e semântica. Saramago, no seu discurso, faz reviver a História e a identidade portuguesa, usando uma linguagem nova, ousada, irônica e subversiva:
Lá saberiam os desembargadores que inconvenientes ditava a prudência humana, mas agora vão ter de engolir a língua e digerir o mau pensamento, que já disse frei Antônio de São José que convento havendo, haverá sucessão. A promessa está feita a rainha partirá, a ordem franciscana colherá a palma da vitória, ela que do martírio tantas colheu. Cem anos à espera não será excessiva mortificação para quem conta viver a eternidade. [...] Agora não se vá dizer que, por segredos de confissão divulgados, souberam os arrábios que a rainha estava grávida antes mesmo que ela o participasse ao rei. Agora não se vá dizer que D. Maria Ana, por ser tão piedosa senhora, concordou calar-se o tempo bastante para aparecer com o chamariz da promessa o escolhido virtuoso frei Antônio. Agora não se vá dizer que el-rei contará as luas que decorrerem desde a noite do voto ao dia em que nascer o infante, e as achará completas. Não se diga mais do que ficou dito. Saiam então absorvidos os franciscanos dessa suspeita se nunca se acharam noutras igualmente duvidosa. (M. C., 2003, p.26)
Vê-se uma linguagem ousada com a oralidade expressa de forma satírica para evidenciar a produção dos falsos milagres e a presença do falso moralismo na troca de favores por parte da Igreja. O autor desconstrói a imagem dogmática da igreja e dos milagres que são projetados para o ganho de glória e de privilégios, através da crença das pessoas. Nesse romance Saramago parodia a História, envolve a nobreza e o clero e leva ao leitor, de forma direta, todas as intenções desses expoentes antes das ações praticadas por eles.
A oralidade e o narrador intruso dão ao discurso a veracidade necessária, além de aproximar o leitor do conteúdo. São usadas expressões orais ao mesmo tempo em que o narrador, através da manipulação discursiva, leva o leitor a partilhar de sua opinião a respeito dos personagens, como acontece quando fala de Maria Ana, Frei Antônio e de el-rei. O autor usa uma linguagem que altera a expressão gráfica da pontuação e tenta unir os planos expressivos da fala, do pensamento e da escrita, por isso há uma relação íntima entre o narrador, o narrado e o leitor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se assim que a compreensão da obra saramaguiana está, principalmente, no entendimento do seu discurso inovador e experimental, dentro de um estilo arrojado e torrencial. Saramago não distingue o discurso direto nem o indireto, o que exige mais atenção do leitor. Ele também não faz uso da convenção da pontuação, utiliza apenas a vírgula e o ponto final; a passagem da palavra do narrador para o personagem é apresentada por uma letra maiúscula. Ora o leitor imagina estar na obra junto com o narrador, ora se sente em plena maratona lingüística, por não haver as “paradas” devidas ao discurso que, torrencialmente, “arrasta” esse leitor para as entrelinhas.
Saramago aborda usos, costumes e problemas humanos, usando personagens enigmáticos como Blimunda que tem o mundo contido em seu nome; o próprio Baltasar sete sois, entre outros personagens, visões essas, semanticamente e simbolicamente bem construídas pelo autor no sentido de mostrar as fraquezas, defeitos e, principalmente, os desejos contidos em cada um. A obra de Saramago é complexa ao mesmo tempo em que encanta pela forma que aborda a problemática da vida real e pela maneira discursiva que atrai o leitor. Pelo exposto fica clara a contra-ideologia do autor nas entrelinhas de sua ação discursiva. Ele invoca a identidade do homem, numa procura incessante, assim como busca uma nova linguagem e estilo para evidenciar isso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BARDAN, Laurence. Análise de Conteúdo. 70ª ed. Lisboa: 1972.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem, São Paulo: Hucitec, 2002.
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BERARDI, L. Análisis Crítico del Discurso: perspectivas latinoamericanas. Santiago de Chile: Frasis, 2003.
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KOCH, Ingedore Villaça; FAVERO, Leonor Lopes. Lingüística Textual, Introdução. São Paulo: Cortez, 2000.
RUSSEL, Bertrand. Ensaios escolhidos. São Paulo: Victor Civita, 1985.
SANT’ANNA, Raimundo Romano de. Análise estrutural de romances brasileiros. Petrópolis, Vozes, 1984
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_____. O evangelho segundo Jesus Cristo. São Paulo: Cia. das Letras. 2003.
_____. A bagagem do Viajante. São Paulo: Cia. das Letras, 2002.
_____. Ensaio sobre a Cegueira. São Paulo: Cia. das Letras, 2002.
_____. Ensaio sobre a Lucidez. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.
_____. Cadernos de Lanzarote. São Paulo, Cia. da Letras, 1997.
A CONTRA-IDEOLOGIA NO DISCURSO DE JOSÉ SARAMAGO
Maria do Socorro Pereira de Almeida
Mestre em Literatura e Interculturalidade pela UEPB; especialista em literatura brasileira pela UFPE. Professora de Graduação e Pós-Graduação da Faculdade Sete de Setembro, em Paulo Afonso- BA.
RESUMO
Esse trabalho propõe um olhar sobre a obra de José Saramago no intuito de observar, através da ação discursiva, a transgressão à ideologia social tanto no que condiz ao modo de escrever quanto a idealização da figura feminina. Toda obra se define como ideológica quando cumpre o código vigente, reproduzindo os princípios de uma época, região, geração, língua ou movimento. Da mesma forma a arte é contra-ideológica quando se afasta do código estético ou conteudístico vigente e promove seus próprios referentes. Ao ler uma narrativa o leitor espera se deparar com uma linguagem formal, já pré-estabelecida por uma convenção artística e social. Ao quebrar essa formalidade a obra torna-se contra-ideológica, diferente, e é assim que se caracteriza a obra de José Saramago, que traz a oralidade e o que poderia se chamar de desvios lingüísticos como gírias, expressões populares, interjeições e ditos que só a linguagem oral permitiria. Para cumprir a proposta buscamos as obras Memorial do Convento, Ensaio Sobre a Cegueira e O Evangelho segundo Jesus Cristo. Esclarece-se que nas citações, essas obras estarão expostas pela sigla, sendo respectivamente M.C; E.S.C. e E.S.J.C para tornar melhor a fruição da leitura.
Palavras-chave: Discurso, contra-ideologia, José Saramago
ABSTRACT
This paper proposes a look at the work of José Saramago in order to observe by means of discursive action, the transgression of the social ideology that is consistent both in the way of writing about the idealization of the female figure. Every work is defined as ideological when it meets the current code, reproducing the principles of an era, region, generation, language or movement. Likewise, the art is counter-ideological when it departs from the aesthetic code or content force and promotes its own measures. While reading a story the reader expect to run into a formal language, as predetermined by an artistic and social convention, but this step by breaking the work becomes counter-ideology, different, and that is how it characterizes the work of José Saramago, which shows the orality and what might be called linguistic differences as slang, expressions of popular, interjections and said that only oral language would allow. For the fulfillment of proposal we tried to work the Memorial do Convento, Blindness and The Gospel According to Jesus Christ. It is clarified that in quotes, these works will be exposed by the initials, and MC respectively; ESC and ESJC to make better the enjoyment of reading.
Keywords: Speech, counter-ideology, José Saramago
A CONTRA-IDEOLOGIA EM JOSÉ SARAMAGO
O discurso de José Saramago se constitui num dizer especial e único, a ironia é um dos requisitos preferidos pelo o autor. A sua forma de mostrar o mundo e os homens, na sua intricada relação, assim como a condição de “ser”, são fatores que farão a diferença entre ele e os demais autores. A relação do narrador saramaguiano com o leitor é de uma intimidade de vizinhos ou companheiros de uma mesma situação de ser e estar no mundo, pois o narrador convida o leitor, durante todo o tempo, para observar o mundo através de seus olhos.
A condição humana dada aos personagens também é um fato interessante a ser observado pela maneira como se revelam na narrativa, como é o caso da rainha, D. Maria Ana e de Blimunda, em Memorial do Convento, a condição de mulher que cada uma expressa e suas capacidades como seres humanos. Com a mesma naturalidade revela-se esse aspecto também em Ensaio sobre a Cegueira.
A partir do exposto procura-se nas obras do referido autor evidenciar a oralidade, a desconstrução da linearidade do discurso, a subversão gramatical e a contra-ideologia encontrada nas entrelinhas, no que se refere aos preceitos sociais, históricos e religiosos que são desconstruídos ao longo das narrativas. Mostram-se também semelhanças e diferenças estruturais e estilísticas diante das demais obras, uma vez que “a ideologia e contra-ideologia devem ser confirmadas não apenas no nível do enunciado, mas principalmente, no nível da enunciação.” (SANT’ANNA, 1984, p. 54).
Como grande escritor consagrado, dono de uma vasta obra e de vários gêneros como romance, teatro, crônica e poesia, Saramago é o primeiro Nobel em Literatura de Língua portuguesa, dessa forma, um cânone do seu nível é idealizado como nobiliárquico da literatura em todos os sentidos, mas é exatamente a diferença, a subversão, a ironia genial que o faz especial. Sendo assim, esse estudo procura mostrar a contrariedade ideológica na obra do autor no tocante à forma do discurso, a estrutura textual e a sua visão de mundo.
Saramago é, antes de tudo, subversivo, autônomo e singular dentro da narrativa, além de possuir um poder de ironia que poucos conseguem alcançar com tanta sutileza, graça e arrojo ao mesmo tempo. O olhar crítico dele para com o ser humano e suas fraquezas espirituais vão ao limite do ego do leitor, provocando um prazer inquietante pela forma instigante do discurso utilizado.
As concepções de textos e discursos provocam confusões na hora de tratar desses aspectos, esta confusão é provocada, entre outras coisas, pelo fato de, em algumas línguas como holandês e alemão não existir o termo discurso, dessa forma o termo texto abrangeria os dois aspectos, mudando seu direcionamento para gramática de texto e lingüística de texto. No objetivo de dirimir o mal estar causado na diferenciação dos sentidos desses termos, criaram-se duas denominações diferentes que seriam texto e discurso.
Ingdore Villaça Koch, em Lingüística Textual (2000), faz uma alusão acerca desse problema, colocando posições de alguns estudiosos como Van Dijk, para o qual, o discurso é a unidade passível de observação, aquela que é interpretada na enunciação, seja ela escrita ou falada. Já o texto não se manifesta, é a estrutura que contém o discurso. Entre as discussões acerca desse assunto, salienta-se que o texto é tudo que é manifestado pelo ser humano de forma oral, escrita, visual ou simbólica e o discurso é aquilo que se ler dentro do texto.
O discurso tem uma autonomia, ou seja, pode estar exposto em diferentes formas e estilos, de acordo com o procedimento intencional do emissor, tendo em vista que o discurso é manipulado lingüística e semanticamente, para alcançar o seu objetivo no texto.
Esse procedimento intencional de manipulação do discurso e a subversão gramatical são aspectos observados em José Saramago, pela sua forma especial de comportamento narrativo e de inter-relação com o leitor, o que provoca uma parceria narrativa como se o leitor estivesse junto com o narrador, em uma janela, vendo a narrativa se desenrolar, ao mesmo tempo em que esse narrador faz suas observações para o interlocutor-leitor de forma direta e através de uma oralidade que transcende o papel. O narrador saramaguiano é multifuncional, ele possui uma versatilidade de alguém que não só vê, mas também observa, comenta, interpreta, relata e escreve como se observa nos fragmentos a seguir:
Não faltará já por aí quem esteja protestando que semelhantes miudezas exegéticas em nada contribuem para a inteligência de uma história afinal arquiconhecida, mas ao narrador deste evangelho não parece que seja a mesma coisa, tanto no que toca ao passado como no que ao futuro há-de tocar [...]. (E.S.J.C, 2003, p. 127).
[...] O remorso de Deus e o remorso de José eram um só remorso, e se naqueles antigos tempos já se dizia, Deus não dorme, hoje estamos em boas condições de saber porquê, Não dorme porque cometeu uma falta que nem a homem é perdoável. (E.S.J.C, 2003, p. 131).
Observa-se que o narrador além de irônico, é um revolucionário que ousa desafiar tanto as convicções sociais quanto religiosas. Ele provoca o leitor, o insulta e ao mesmo tempo se faz cúmplice dele nas reflexões sobre o que está sendo narrado a partir do momento que ele se junta ao leitor quando usa, por diversas vezes, em todas as suas obras, a primeira pessoa do plural, dessa forma ele se iguala ao leitor e partilha com ele as angústias e os conflitos numa troca recíproca de papeis.
Uma das características marcantes na obra saramaguiana é, sem dúvida, a construção da oralidade ligada a um discurso torrencial que, pela ausência de pontuação, “carrega” o leitor dentro de uma maratona lingüística. O próprio autor admite esse poder de oralidade e a especificidade de seu discurso quando diz:
[...] provêm de um princípio básico segundo o qual todo o dito se destina a ser ouvido. Quero com isso significar que é como narrador oral que me vejo quando escrevo e que as palavras são por mim escritas tanto para serem lidas como para serem ouvidas. Ora, o narrador oral não usa pontuação, fala como se estivesse a compor música e usa os mesmos elementos que o músico: sons e pausas, altos e baixos, uns, breves ou longas, entre outras coisas. (SARAMAGO, 1997, p. 223).
A narrativa de Saramago traz o narrador e o romancista que se unem ao leitor para refletirem conforme o narrador vai induzindo esse interlocutor a descobrir o seu ponto de vista acerca do que está expondo, tendo em vista que uma das perspectivas de Saramago é a intertextualidade histórica, como é o caso de Memorial do Convento e O Evangelho segundo Jesus Cristo, com as quais abre espaço para seu olhar crítico e sua incomparável ironia, ao mesmo tempo em que tenta resgatar os valores humanos já perdidos.
A linguagem, como diz Bagno (2003), é a força que anima toda humanidade que, dividida em grupos, possui culturas e diferentes ideologias para expressão desse fenômeno. Dentre as várias expressões está a Literatura, que enforma um conteúdo lingüístico vigente culturalmente, em cada época e região e, portanto, trazendo as perspectivas ideológicas dos padrões a serem seguidos dentro de um discurso literário. Segundo Bakhtin (2002, p. 30), “a forma e o conteúdo estão unidos no discurso, entendido como fenômeno social social em todas as esferas de sua existência e em todos os momentos, desde a imagem sonora até os extratos semânticos mais abstratos”.
Sendo o discurso um fenômeno, também social e guardando perspectivas a cerca dessas convenções, a estilística vem evidenciar a individualidade do sujeito na ação discursiva, seja ela poética ou narrativa e mostrar as preferências harmônicas individuais do estilo, ignorando o pré-estabelecido pelas convenções sociais, lingüísticas e estruturais.
Um produto ideológico faz parte de uma realidade natural e social. A língua como processo natural (fala) e artificial (escrita) também compõe o universo ideológico de uma sociedade assim como o signo que traz a relação sintático-semântica do que apresenta. O signo apresenta um objeto que, por sua vez, apresentará um significado que, de acordo com a manipulação usada entre o referente e o referido terá, no universo ideológico, significados diferenciados pela semântica. O pão vendido na padaria como produto de consumo não tem o mesmo valor semântico ideológico do pão oferecido na missa como corpo de Cristo. Dessa forma o signo carrega o valor de acordo com a manipulação lingüística que é apresentado. Como afirma o próprio Bakhitin: “O domínio ideológico coincide com o domínio do signo; são mutuamente correspondentes. Ali onde o signo se encontra, encontra-se também o ideológico. Tudo que é ideológico possui um valor semiótico.” (2002, p. 32).
Nesse caso o discurso traz o signo manipulado lingüisticamente e dessa manipulação se registra o entendimento semântico e o valor do signo no contexto lingüístico, conforme a intenção do autor do enunciado. Assim o significado ideológico de um signo pode ser reforçado ou desconstruído de acordo com a relação leitor-discurso textual.
Como já foi dito anteriormente o discurso revela, entre outras coisas, a realidade de uma época. Com o passar do tempo os destinos do discurso literário sofreram modificações estilísticas por artistas e tendências individuais. Na contemporaneidade a arte, além de abrir-se para receber aspectos de todas as tendências, abre um vago para a solidão do estilo, e torna-se um complexo de estilos em que, cada autor tem a sua singularidade de acordo com os próprios olhos ao observar o mundo, como a busca do já existente para uma nova forma. Assim posto, percebe-se que, para entender as obras de Saramago, é preciso considerar fatores histórico-sociais, intrinsecamente ligados ao seu estilo narrativo como é o caso das obras aqui analisadas.
Berardi (2003) afirma que na compreensão do discurso se incluem todas as formas de conhecimento humano que formam o processo organizacional social. Assim, a análise crítica do discurso e suas relações com as distintas formas de conhecimentos sociais e linguísticos, além de contribuírem para explicação da linguagem humana, mostra que o conhecimento e o processo cognitivo são fatores inclusos na atividade comunicativa, pois a linguagem é a parte essencial do conhecimento e do processo de interação comunicativa no âmbito social, cultural e intelectual, uma vez que esses aspectos vão ser evidenciados na ação discursiva.
Por outro lado Genett (1995) considera que, ao analisarmos a narrativa, nos deparamos com os problemas mais diversos, como ponto de vista, a modalidade da descrição, o modo de construção do personagem, o registro utilizado no chamado “monólogo interior”. Na obra de José Saramago quase tudo é relevante, mas algumas coisas chamam atenção de modo gritante, como a construção dos personagens, o diálogo e o ponto de vista. No primeiro caso o autor se destaca tanto na forma como trata seus personagens e a posição desses na obra, especialmente quando se trata da figura feminina como é o caso de Blimunda (M. do Convento); da Mulher do Médico (Ensaio sobre a cegueira) e de Maria de Magdala (Evangelho Segundo Jesus Cristo), como no discurso montado para esses personagens, pois esses discursos são a chave de toda criticidade e o posicionamento do autor perante a sociedade e o mundo, assim como sua posição perante as “leis ditas divinas”.
No segundo caso a questão do ponto de vista não é diferente, pois o narrador, intruso e cambiante, atravessa toda obra ao lado do leitor, e durante toda narrativa o leitor é pego por uma torrencial chuva de argumentos que o faz ver com os olhos desse narrador. Um discurso seguro, irônico, verdadeiro e, sobretudo, aberto, falando de igual para igual, pois a oralidade permite mais essa faceta:
Se o cego encarregado de escriturar os ilícitos ganhos da camarata dos malvados tivesse decidido, por efeito de uma iluminação esclarecedora do seu duvidoso espírito, passar-se para esse lado com os seus tabuleiros de escrever, o seu papel grosso e o seu punção, certamente andaria agora ocupado em redigir a instrutiva e lamentável crônica do mal passadio e outros muitos sofrimentos destes novos e espoliados companheiros. Começaria por dizer que de lá de onde tinha vindo, não só os usurpadores haviam expulsado da camarata os cegos honrados, para ficarem donos e senhores eles de todo o espaço como haviam, ainda por cima, proibido aos ocupantes de outras duas camaratas da ala esquerda o acesso e a serventia das respectivas instalações sanitárias [...]. (E.S.C. 2002, p. 159)
Saramago, através da cegueira, tenta trazer luz à consciência humana, tenta fazer o homem ver o mundo e olhar quem está ao seu lado, há uma força moral nos diálogos dos personagens que faz o leitor se sentir cúmplice da situação social em que se encontra o mundo: “E tu, como queres tu que continue a olhar para estas misérias, tê-las permanentemente diante dos olhos, e não mexer um dedo para ajudar”, [...] (E.S.C. 2002, p. 135). Na mesma perspectiva o autor mostra a cegueira da luta pelo poder e como, muitas vezes, é mais cômodo estarmos cegos e até surdos e mudos em relação ao mundo, a ter que presenciar coisas que causam revolta. Diante disso há dois caminhos: ou a isenção, através da cegueira ou o protesto, lutando com as armas que tem, no caso do autor, a literatura, através da qual expõe sua indignação perante as anormalidades que se tornam normais, porque de tanto vivê-las, nos acostumamos com elas:
Alguns irão te odiar por veres, não creias que a cegueira nos tornou melhores, Também não nos tornou piores, Vamos a caminho disso, vê tu o que se passa quando chega a altura de distribuir a comida, Precisamente uma pessoa que visse poderia tomar a seu cargo a divisão dos alimentos por todos os que estão aqui, fazê-lo com equidade, com critério, deixaria de haver protestos, acabariam essas disputas que me põem louca, tu não sabes o que é ver dois cegos a lutarem, Lutar foi sempre, mais ou menos, uma forma de cegueira, isto é diferente, Farás o que melhor te parecer, mas não te esqueças daquilo que nós somos aqui, cegos, simplesmente cegos, cegos sem retóricas nem comiserações, o mundo caridoso e pitoresco dos ceguinhos acabou, agora é o reino duro, cruel e implacável dos cegos, Se tu pudesses ver o que sou obrigada a ver, quererias estar cego. (E.S.C. 2002, p. 135). Grifo nosso.
Observa-se que numa desobediência gramatical de pontualidade, fazendo com que o leitor não interrompa a leitura, o autor traz o mundo para dentro de um manicômio para mostrá-lo melhor ao leitor. Dentro de um “não lugar” e um “não tempo”, a narrativa se desenrola evidenciando o mundo em qualquer lugar, pois o mundo se faz também de seres humanos e esses, são iguais em toda parte.
A parte grifada na citação traz a abrangência de sentidos que há na frase, dois cegos a lutarem, dois homens sem consciência de ser, que a cegueira não deixa que vejam um ao outro e sim só o interesse de cada um. Depois guerras, a imbecilidade das guerras, a inutilidade de se tirar vidas de semelhantes quando a luta deveria ser em prol um do outro. Por outro lado muitos que “vêem” fingem estarem cegos para não se comprometerem, não perderem a comodidade na vida, ou seja, não comprar briga em prol de quem não irá alcançar o verdadeiro teor da “guerra”. Ainda percebe-se que, pela impotência de mudança, muitos realmente prefeririam estar cegos.
Voltando ao discurso, de acordo com Genett (1995), quando a discussão é sobre uma determinada obra, é o discurso, ou seja, é a narrativa enquanto discurso e não a narrativa enquanto história que está em causa. Aspectos de ordenação, não em torno de encadeamentos, mas em torno da percepção de sentido desses encadeamentos, por outras palavras, o estudo da articulação temporal, e já na lógica da narrativa. À luz de Genette consegue-se dizer o que realmente chama a atenção, o que prende o leitor e o que tem de mais contagiante na obra de Saramago. Toda obra saramaguiana deve ser vista sob o aspecto também discursivo, pois no autor de As Intermitências da morte o mais importante não é o que se conta, mas o como se conta, é o que se vê a seguir em um dos fragmentos de O Evangelho segundo Jesus Cristo:
[...] não podemos afirmar que Maria Madalena tivesse sido, de facto, loura, apenas nos estamos enconformando com a corrente de opinião maioritária que insiste em ver nas louras, tanto as de natureza como as de tinta, os mais eficazes instrumentos de pecado e perdição. Tendo sido Maria Madalena, como é geralmente sabido, tão pecadora mulher, perdida como as que mais o foram, teria também de ser loura para não desmentir as convicções, em bem e em mal, adquiridas, de metade do gênero humano. (E.S.J.C, 2003, p. 9).
A ironia com que o autor fala da concepção da loira na sociedade em geral é gritante. O autor poderia usar outros exemplos para isso, mas a figura de Maria Madalena é, sem dúvida, uma maneira de ser realmente transgressor, de ir direto e rapidamente ao leitor e extrair dele a reflexão sobre os conceitos ou pré-conceitos de uma sociedade hipócrita e de falsa moral. A intencionalidade narrativa se revela nas entrelinhas, através do uso das palavras e de como coloca a figura de Madalena, é a maneira de dizer que faz a diferença e açambarca o leitor para o texto de forma extasiante.
No que se refere a figura feminina a contra-ideologia de Saramago transcende as linhas do texto. Enquanto o mundo vive, há séculos, numa sociedade patriarcal, é à mulher que ele vai dar a palavra, os olhos para ver além e guiar a humanidade e a sabedoria para isso. Em O Evanhelho segundo Jesus Cristo observa-se em Maria de Magdala, não apenas uma prostituta, mas uma mulher, ou seja, o autor mostra nela além do que permite a convicção imaginária da sociedade, dar-lhe uma alma, personalidade e caráter; dar-lhe também a sabedoria para aconselhar Jesus, como se vê no momento da morte de Lazaro:
[...] só falta que Jesus, olhando o corpo abandonado pela alma, estenda para ele os braços como o caminho por onde ela há de regressar, e diga, Lázaro levanta-te, e Lázaro levantar-se-á, porque Deus o quis, mas é nesse instante, em verdade o último e derradeiro, que Maria de Magdala põe uma mão no ombro de Jesus e diz, Ninguém na vida teve tantos pecados, que mereça morrer duas vezes, então Jesus deixou cair os braços e saiu para chorar. (E.S.J.C, 2003, p. 428).
O autor mais uma vez desconstrói a convicção humana em relação a esse momento, é como se Jesus se deixasse cegar pela ambição de mostrar seu poder e não tenha pensado verdadeiramente em Lázaro, isso é perceptível na fala de Maria de Magdala. Nesse contexto observa-se a contra-ideologia do autor em relação às convicções sócio-religiosas.
Outro aspecto relevante no autor português é, sem dúvida, a tentativa de evidenciar o homem como ser cultural e social no mundo, sua função enquanto indivíduo, suas fraquezas enquanto ‘produto’ do meio e seu papel enquanto ser de uma sociedade unificada em que as relações giram em torno do “ter” e do poder. Em Memorial do Convento destacam-se dois mundos: o da nobreza, representado pelo rei D. João V e sua família e os integrantes da Igreja e o outro mundo onde estão Blimunda, Baltazar e o Padre Bartolomeu de Lourenço, representantes do povo. Nessa perspectiva evidencia-se, ironicamente, as condições de injustiças e as práticas sociais que, muitas vezes, ficam as escondidas:
Dizem que o reino anda mal governado, que nele está menos a justiça, e não reparam que ela está como deve estar, com sua venda nos olhos, sua balança e sua espada.[...] Dos julgamentos do santo ofício não se fala aqui, que esse tem bem abertos os olhos, em vez de balança, um ramo de oliveira e uma espada afiada.[...] há quem julgue que o raminho é oferta de paz, quando está muito patente que se trata do primeiro graveto da futura pilha de lenha, ou te corto ou te queimo, por isso é que, havendo que falar à lei, mais vale apunhalar a mulher por suspeita de infidelidade, que não honrar os fiéis defuntos, a questão é ter padrinhos que desculpem o homicídio e mil cruzados para por na balança, nem é para outra coisa que a justiça a leva na mão. (M.C. 2003, p. 182).
A par dessa questão, Moscovici apud Berardi (2003) diz que a compreensão das representações sociais pode se estender ao caráter social do conhecimento quando se pretende explicar sobre o conhecimento social e o papel destas formas de construção cultural a partir do discurso. Saramago vai partir exatamente do discurso para fazer emergir essa compreensão social e cultural e acessibilizá-la ao leitor:
Tinha sangue nas mãos e na roupa, e subtamente o corpo exausto avisou-a de que estava velha, Velha e assassina, pensou, mas sabia que se fosse necessário tornaria a matar, E quando é que é necessário matar, perguntou a si mesma enquanto ia andando na direção do átrio, e a si mesma respondeu, Quando já está morto o que ainda é vivo, [...]. (E.S.C. 2002, p. 189).
Essa cena de Ensaio sobre a cegueira mostra o momento em que a mulher do médico volta da camarata dos cegos violadores, após ter matado o líder. Ela reflete sobre as próprias atitudes, não imaginava chegar a esse ponto, mas conclui que o que está morto deve ser tirado do convívio, assim se faz quando se enterra os mortos. Nessa perspectiva observa-se que o cego estava morto em vida, ele não existia como ser, para o mundo dos humanos ele já se fazia cadáver. Esses aspectos remetem a um a Fernando Pessoa em um dos poemas que compõe a obra Mensagem, em que mostra que a inconsciência de mundo faz do homem um “cadáver adiado que procria”.
Na contemporaneidade, a estilística foge ao destino sociológico do discurso em prol da genialidade e da individualidade artística, trazendo uma arte ousada e subversiva. Na maioria dos casos “a estilística apresenta-se como uma arte “caseira” que ignora a vida social do discurso fora do atelier do artista. A estilística ocupa-se não com a palavra viva, mas com seu corte histológico, com a palavra lingüística e abstrata a serviço da maestria do artista” (BAKHTIN, 2002, p. 71). Partindo dessa premissa observa-se na estilística discursiva do autor analisado, a subversão lingüística no tocante a oralidade e a desobediência gramatical na pontuação que se revela numa contra-ideologia carregada de ironia:
Mora o padre cerca do Paço, e ainda bem, pois muito o freqüenta, não tanto por obrigações firmes do seu título de capelão fidalgo, mais honorífico que efetivo, mas por lhe querer bem El rei, que ainda não perdeu de todo as esperanças, e já vão onze anos passados, por isso pergunta benévolo,Verei voar a máquina um dia, ao que o padre Bartolomeu, honestamente, não pode responder mais do que isto, Saiba vossa majestade que a máquina um dia voará, Cá estarei para ver, Viva nossa majestade nem tanto quanto viveram os antigos patriarcas do Testamento velho, e não só verá voar a máquina como nela voará [...]. (M.C. 2003, p. 155)
Um discurso é tecido ou determinado pelo sistema lingüístico sob o qual é formado e as condições que é produzido. Conhecendo-se as condições de produção e o sistema lingüístico é possível observar o processo de produção, analisando-se semanticamente e sintaticamente o discurso em questão. Isso posto, observa-se que Saramago é um escritor contemporâneo e, como tal, usa toda liberdade que lhe é atribuída e comunga também junto com a subversão da contradição dessa arte. A arte contemporânea é contraditória, pois “usa, abusa, instala e depois subverte os próprios conceitos que desafia em qualquer que seja a forma de expressão, essa contradição encontra-se tanto na forma quanto no conteúdo.” (RUTHEON, 1999, p. 19). É, pois, o estilo usado que vai evidenciar esses aspectos.
Assim “A arte pós-moderna afirma de maneira idêntica e depois ataca de maneira deliberada, princípios como valor, ordem, sentido, controle e identidade.” (RUSSEL, 1985. p. 247) Em Saramago essa subversão se evidencia de várias formas tanto no tocante a História, da qual ele se utiliza para evidenciar seu olhar crítico e sua inigualável ironia, como também na subversão às regras e padrões gramaticais e lingüísticos, pois além de não obedecer às normas de produção e de narração entre narrador e personagem ainda abusa da oralidade com a maestria de gênio:
Por baixo do sol vemos um homem nu atado a um tronco de árvore, cingido os rins que lhe cobre as partes a que chamamos prudentas ou vergonhosas e os pés tem nos assentos no que resta de um ramo lateral cortado, porém por maior firmeza, para que não resvalem desse suporte natural, dois pregos os mantêm cravados fundo. Pela expressão da cara, que é de inesperado sofrimento e pela direção do olhar, erguido para o alto, deve ser o bom ladrão.(...). Esta postura solene, este triste semblante só podem ser de José de Arimateia. Ora esse José de Arimateia é aquele bondoso e abastado homem que ofereceu os préstimos de um túmulo para nele ser depositado o corpo principal (...) de certeza que a mulher ajoelhada se chama Maria pois de antemão sabíamos que todas quanto aqui vieram juntar-se usam esse nome [...]. (E.S.J.C., 2003, p.13).
No texto acima de O Evangelho segundo Jesus Cristo, ao usar o verbo ver na primeira pessoa do plural o narrador se coloca ao lado do leitor e pinça da História um fragmento para lançar sua crítica mordaz. A linguagem irônica com que apresenta os personagens e a situação deles faz com que se perceba a crítica ao ideal social de religiosidade e hipocrisia ao mesmo tempo.
No tocante a faceta poética, Saramago, em um dos seus poemas, retoma um dos episódios de Os Lusíadas, fala ao astronauta através de um personagem camoniano, mostrando ousadamente o que o velho do Restelho, por certo falaria, considerando as realidades de acordo com a época atual.
(...) Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de nepalme.
(Saramago, “Os Poemas Possíveis", 1966).
Camões mostrou, através do Velho do Restelho, seu olhar crítico à ganância dos portugueses que arriscavam a vida em busca de glória. Saramago vai, intertextualmente, tendo agora, ao invés de marinheiros, o astronauta como receptor de suas reflexões, usar a rigidez do personagem camoniano para criticar ironicamente a busca exacerbada pelo poder que dá glória para uns enquanto “mata” outros de fome.
No que se refere ao discurso, segundo Bardan (1977, p. 214), este está situado e determinado, também pela posição do emissor e pela sua relação com o receptor, pois ambos compõem os lugares determinados na formação de uma estrutura social e temporal. No discurso do velho do Restelho ao receptor astronauta percebem-se os aspectos econômico e político além de situar o leitor no tempo contemporâneo, através da alusão de armas como a bomba de Nepalme. Dessa forma o discurso nos remete a uma realidade implícita na época retratada pela ação narrativa ou poética, como o diz Bardan:
As condições de produção de um discurso e o sistema lingüístico utilizado são os componentes dessa estrutura profunda e desta matriz que tentaremos descobrir por detrás das variações de superfície. Com efeito as condições de produção funcionam como um princípio de seleção-valorização sobre elementos da língua. (1977, p. 215).
O discurso, portanto, executa a tentativa de fruição e transformação através da língua e a noção de transformação está na manipulação lingüística, que permite a “viagem”, na qual se dá a compreensão semântica. A análise ocorre a partir do descobrimento dos domínios semânticos e suas relações dentro do texto, provocando as descobertas semântica, sintática e lógica e assim, a produção do leitor-escritor, em um jogo de codificação e descodificação que resultará na interação lingüística e semântica. Saramago, no seu discurso, faz reviver a História e a identidade portuguesa, usando uma linguagem nova, ousada, irônica e subversiva:
Lá saberiam os desembargadores que inconvenientes ditava a prudência humana, mas agora vão ter de engolir a língua e digerir o mau pensamento, que já disse frei Antônio de São José que convento havendo, haverá sucessão. A promessa está feita a rainha partirá, a ordem franciscana colherá a palma da vitória, ela que do martírio tantas colheu. Cem anos à espera não será excessiva mortificação para quem conta viver a eternidade. [...] Agora não se vá dizer que, por segredos de confissão divulgados, souberam os arrábios que a rainha estava grávida antes mesmo que ela o participasse ao rei. Agora não se vá dizer que D. Maria Ana, por ser tão piedosa senhora, concordou calar-se o tempo bastante para aparecer com o chamariz da promessa o escolhido virtuoso frei Antônio. Agora não se vá dizer que el-rei contará as luas que decorrerem desde a noite do voto ao dia em que nascer o infante, e as achará completas. Não se diga mais do que ficou dito. Saiam então absorvidos os franciscanos dessa suspeita se nunca se acharam noutras igualmente duvidosa. (M. C., 2003, p.26)
Vê-se uma linguagem ousada com a oralidade expressa de forma satírica para evidenciar a produção dos falsos milagres e a presença do falso moralismo na troca de favores por parte da Igreja. O autor desconstrói a imagem dogmática da igreja e dos milagres que são projetados para o ganho de glória e de privilégios, através da crença das pessoas. Nesse romance Saramago parodia a História, envolve a nobreza e o clero e leva ao leitor, de forma direta, todas as intenções desses expoentes antes das ações praticadas por eles.
A oralidade e o narrador intruso dão ao discurso a veracidade necessária, além de aproximar o leitor do conteúdo. São usadas expressões orais ao mesmo tempo em que o narrador, através da manipulação discursiva, leva o leitor a partilhar de sua opinião a respeito dos personagens, como acontece quando fala de Maria Ana, Frei Antônio e de el-rei. O autor usa uma linguagem que altera a expressão gráfica da pontuação e tenta unir os planos expressivos da fala, do pensamento e da escrita, por isso há uma relação íntima entre o narrador, o narrado e o leitor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se assim que a compreensão da obra saramaguiana está, principalmente, no entendimento do seu discurso inovador e experimental, dentro de um estilo arrojado e torrencial. Saramago não distingue o discurso direto nem o indireto, o que exige mais atenção do leitor. Ele também não faz uso da convenção da pontuação, utiliza apenas a vírgula e o ponto final; a passagem da palavra do narrador para o personagem é apresentada por uma letra maiúscula. Ora o leitor imagina estar na obra junto com o narrador, ora se sente em plena maratona lingüística, por não haver as “paradas” devidas ao discurso que, torrencialmente, “arrasta” esse leitor para as entrelinhas.
Saramago aborda usos, costumes e problemas humanos, usando personagens enigmáticos como Blimunda que tem o mundo contido em seu nome; o próprio Baltasar sete sois, entre outros personagens, visões essas, semanticamente e simbolicamente bem construídas pelo autor no sentido de mostrar as fraquezas, defeitos e, principalmente, os desejos contidos em cada um. A obra de Saramago é complexa ao mesmo tempo em que encanta pela forma que aborda a problemática da vida real e pela maneira discursiva que atrai o leitor. Pelo exposto fica clara a contra-ideologia do autor nas entrelinhas de sua ação discursiva. Ele invoca a identidade do homem, numa procura incessante, assim como busca uma nova linguagem e estilo para evidenciar isso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAGNO, Marcos. Língua Materna: Letramento, variação, São Paulo: Parábola, 2003.
_____. Norma Oculta: Língua e Poder na Sociedade Brasileira. São Paulo: Parábola, 2003.
BARDAN, Laurence. Análise de Conteúdo. 70ª ed. Lisboa: 1972.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem, São Paulo: Hucitec, 2002.
_____.Questões de Literatura e Estética, São Paulo: Hucitec, 2002.
BERARDI, L. Análisis Crítico del Discurso: perspectivas latinoamericanas. Santiago de Chile: Frasis, 2003.
GENETT, Gerard. Discurso da Narrativa. Lisboa: Vega, 1995
HUTHEON, Linda. Poética do Pós-Modernismo, Rio de Janeiro: Imago, 1991
KOCH, Ingedore Villaça; FAVERO, Leonor Lopes. Lingüística Textual, Introdução. São Paulo: Cortez, 2000.
RUSSEL, Bertrand. Ensaios escolhidos. São Paulo: Victor Civita, 1985.
SANT’ANNA, Raimundo Romano de. Análise estrutural de romances brasileiros. Petrópolis, Vozes, 1984
SARAMAGO, José. Memorial do Convento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
_____. O evangelho segundo Jesus Cristo. São Paulo: Cia. das Letras. 2003.
_____. A bagagem do Viajante. São Paulo: Cia. das Letras, 2002.
_____. Ensaio sobre a Cegueira. São Paulo: Cia. das Letras, 2002.
_____. Ensaio sobre a Lucidez. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.
_____. Cadernos de Lanzarote. São Paulo, Cia. da Letras, 1997.
A literatura sem José Saramago
Hoje, sexta feira, 18 de junho de 2010, as 7:30 da manhãa morreu o escritor português José saramago. As palavras não são bastantes para expressar a perda da arte literária mundial, com a ausência daquele que foi um dos mais ousados escritores contemporãneos, que soube, como poucos utilizar a liberdade de expressão concedida pela arte contemporânea. Saramago, um observador do homem e de sua relação com o mundo e com o outro, cumpriu com bom humor, seriedade e competência a missão que a literatura traz, de lentificar os olhos do homem para o mundo.
domingo, 13 de junho de 2010
Êxtase anímico ( Socorro Almeida)
ÊXTASE ANÍMICO
Te espero, te procuro,
Tu vens e tomas conta de mim
Me apóias, me tocas
E fazes de mim teu grito,
Para que eu transmita o meu próprio ai.
Me machucas e me alentas
Me consomes e sustentas.
Me entrego nos teus braços,
Deixo-me levar... e choro.
E tu me embalas na balada da dor.
Dou-me toda para ti
Afinal, és minha única saída.
És companheira da minha solidão,
És conforto da minha alma perdida.
Sempre estou pronta para te receber
Mesmo que não me consinta o meio.
Já moras em mim
Apenas, às vezes, adormecida,
Consente-me a infeliz realidade.
Mas ao despertares, me tomas
Sabes que me rendo aos teus encantos
O sonho vem,
Retiro-me de mim
Para dar-me a ti
E vagueio, e amo, e quero, e tenho e...
Depois adormeces no meu cansaço.
Poesia!
Te espero, te procuro,
Tu vens e tomas conta de mim
Me apóias, me tocas
E fazes de mim teu grito,
Para que eu transmita o meu próprio ai.
Me machucas e me alentas
Me consomes e sustentas.
Me entrego nos teus braços,
Deixo-me levar... e choro.
E tu me embalas na balada da dor.
Dou-me toda para ti
Afinal, és minha única saída.
És companheira da minha solidão,
És conforto da minha alma perdida.
Sempre estou pronta para te receber
Mesmo que não me consinta o meio.
Já moras em mim
Apenas, às vezes, adormecida,
Consente-me a infeliz realidade.
Mas ao despertares, me tomas
Sabes que me rendo aos teus encantos
O sonho vem,
Retiro-me de mim
Para dar-me a ti
E vagueio, e amo, e quero, e tenho e...
Depois adormeces no meu cansaço.
Poesia!
Em viagem (Socorro Almeida)
EM VIAGEM (Socorro Almeida)
É junho, tempo de plantio e de colheita,
De ver renascer a esperança,
De ver a vida surgir com a natureza.
Vêem-se, ao longe, pontos brancos.
É o gado que, calmamente, poda as campinas alcatifadas.
As árvores margeiam a estrada
Como irmãs mais velhas das pequenas urzes
Que sorriem pelo caminho, esquecendo as dores causadas pela seca,
Quando o sol as faz se contorcerem, esturricadas de sede.
Em cima dos morros, agora encobertos pelo verde,
Imagina-se a soltura da alma como se fosse cada canto que se olha,
O centro do mundo.
Mas cada parte é o centro do mundo!
Cada amanhecer mostra a essência de mais uma morte
Que voltará sempre.
Cada homem é mais um, porque outro já se fora.
No caminho, os partidos de cana ondeiam
Conforme a direção do vento e, aos olhos,
É dada a observação da vida.
A vida de várias vidas...
As porteiras fecham mundos diferentes
Que ocupam o mesmo espaço, mas dividem
O querer, o ver, o saber, o pensar...
As aves passam à frente,
Louvando o contexto do universo,
Numa relação de intimidade, cumplicidade e companheirismo.
E os trabalhadores que partilham tudo, as margens do caminho,
Apenas trabalham.
Para muitos o mundo se resume ao buraco aberto pela pesada ferramenta
Que caleja as mãos e entorta a coluna.
E a natureza, em paz consigo mesma,
Assiste ao desvario humano e a sua própria morte.
É junho, tempo de plantio e de colheita,
De ver renascer a esperança,
De ver a vida surgir com a natureza.
Vêem-se, ao longe, pontos brancos.
É o gado que, calmamente, poda as campinas alcatifadas.
As árvores margeiam a estrada
Como irmãs mais velhas das pequenas urzes
Que sorriem pelo caminho, esquecendo as dores causadas pela seca,
Quando o sol as faz se contorcerem, esturricadas de sede.
Em cima dos morros, agora encobertos pelo verde,
Imagina-se a soltura da alma como se fosse cada canto que se olha,
O centro do mundo.
Mas cada parte é o centro do mundo!
Cada amanhecer mostra a essência de mais uma morte
Que voltará sempre.
Cada homem é mais um, porque outro já se fora.
No caminho, os partidos de cana ondeiam
Conforme a direção do vento e, aos olhos,
É dada a observação da vida.
A vida de várias vidas...
As porteiras fecham mundos diferentes
Que ocupam o mesmo espaço, mas dividem
O querer, o ver, o saber, o pensar...
As aves passam à frente,
Louvando o contexto do universo,
Numa relação de intimidade, cumplicidade e companheirismo.
E os trabalhadores que partilham tudo, as margens do caminho,
Apenas trabalham.
Para muitos o mundo se resume ao buraco aberto pela pesada ferramenta
Que caleja as mãos e entorta a coluna.
E a natureza, em paz consigo mesma,
Assiste ao desvario humano e a sua própria morte.
domingo, 28 de março de 2010
A PROCURA DA POESIA (Socorro Almeida)
Aqui estou a procura da palavra certa
Para fazer um poema.
Mas como achar a palavra
Em um mundo onde falta comunicação?
Que palavra um poeta poderia usar
Para não se conter em si mesmo?
O vocábulo não importa,
Importa mais o motivo,
Um motivo para um poema,
Mas como achar um motivo
Em mundo onde só um motivo é bastante?
O poder!
Mas o motivo não é tudo.
Aquece-me o sentimento,
Mas como exprimi-lo em um mundo
De uma humanidade desconhecida?
O sentimento de um poeta não seria o bastante
Para preencher todos os corações
Duros de não sentirem
E vazios pela impossibilidade de Ser.
Para fazer um poema.
Mas como achar a palavra
Em um mundo onde falta comunicação?
Que palavra um poeta poderia usar
Para não se conter em si mesmo?
O vocábulo não importa,
Importa mais o motivo,
Um motivo para um poema,
Mas como achar um motivo
Em mundo onde só um motivo é bastante?
O poder!
Mas o motivo não é tudo.
Aquece-me o sentimento,
Mas como exprimi-lo em um mundo
De uma humanidade desconhecida?
O sentimento de um poeta não seria o bastante
Para preencher todos os corações
Duros de não sentirem
E vazios pela impossibilidade de Ser.
quinta-feira, 4 de março de 2010
A voz humana - Ponto de vista por Socorro Almeida
Você já parou para pensar de onde vem e como é feita a voz humana? È um fenômeno que todos têm a capacidade de exercer logo ao nascer, através choro, não deixando dúvida quanto a sua origem. O homem é um ser dotado de fenômenos e entre eles está a curiosidade inata, e, na busca de explicações veremos uma pequena amostra do que poder ser a voz humana.
Existem no mundo vários instrumentos musicais feitos pelo homem, cada um com um determinado som e função. Numa orquestra pode-se observar distintos instrumentos com determinadas participações na melodia, imagina-se, porém, um coral em que várias vozes estão juntas e cada uma tem um pouquinho de participação na mesma melodia, dando uma só entonação. Pode-se dizer que a voz humana é o mais perfeito instrumento e o mais frágil, mas nada se compara a mesma, pois o que é natural não tem comparação.
O ser humano tem três sistemas de cujos trabalhos em conjunto resulta na voz: o sistema fonatório, formado pela laringe, onde ficam as cordas vocais que produzem a voz. O sistema articulatório que fica na face e o respiratório, localizado no pulmão.
A unidade da fala é a sílaba pela qual sai a baforada de ar, a medida em que se fala, o ar sai em forma de som que pode ser vozado (quando há vibração nas cordas vocais), porém é a glote quem distingue os sons de acordo com a sua posição.
__ Aberta, sons não vozados ou apenas respirando.
__ Vibrando, sons vozados Z e V
__ Estreitada, sons sussurrados.
__ Fechada, o indicador para o fluxo de ar gótico.
A voz também precisa de saúde e para tê-la é preciso alguns cuidados: Não desgastá-la, não gritar e deixá-la fluir naturalmente sem exageros ou esforço. A bebida, o cigarro e o gelo, fazem muito mal a voz.
Existem casos curiosos, a maioria dos japoneses tem calo nas pregas vocais porque falam muito baixo. Os italianos criam nódulos por falarem alto, por isso a voz deve ser exercida de acordo com o organismo de cada um, ou seja, ela é limitada a sua capacidade.
Tem pessoas que perdem a voz por doença como o câncer de laringe e passam por adaptações para falarem com auxílio de aparelhos que deixam a voz robótica ou a respiração feita pela traquéia, falando pelo esôfago. No caso dos mudos, eles produzem sons só que não os distinguimos e muitos não falam porque são surdos já outros aprendem a leitura labial para entender a mensagem e usam as mãos para se fazer entender.
Um fato muito interessante, é que a voz está ligada também a emoção, ela a reflete através do tom, da maneira ou estado, pois logo percebe-se num indivíduo uma voz trêmula, embargada, chorosa, como percebe-se também a fúria ou a euforia.
De posse de tais informações, pode-se dizer que a voz e a musicalidade estão ligadas, a música sendo um relaxante e a voz como portadora, lembrando-se do dito popular “quem canta seus males espanta”. Vale salientar que a voz humana é universal, não importa o idioma, ela é fruto da natureza humana, fazendo do homem um ser especial e único, dando-lhe a capacidade de viver a sua plenitude de ser humano.
Existem no mundo vários instrumentos musicais feitos pelo homem, cada um com um determinado som e função. Numa orquestra pode-se observar distintos instrumentos com determinadas participações na melodia, imagina-se, porém, um coral em que várias vozes estão juntas e cada uma tem um pouquinho de participação na mesma melodia, dando uma só entonação. Pode-se dizer que a voz humana é o mais perfeito instrumento e o mais frágil, mas nada se compara a mesma, pois o que é natural não tem comparação.
O ser humano tem três sistemas de cujos trabalhos em conjunto resulta na voz: o sistema fonatório, formado pela laringe, onde ficam as cordas vocais que produzem a voz. O sistema articulatório que fica na face e o respiratório, localizado no pulmão.
A unidade da fala é a sílaba pela qual sai a baforada de ar, a medida em que se fala, o ar sai em forma de som que pode ser vozado (quando há vibração nas cordas vocais), porém é a glote quem distingue os sons de acordo com a sua posição.
__ Aberta, sons não vozados ou apenas respirando.
__ Vibrando, sons vozados Z e V
__ Estreitada, sons sussurrados.
__ Fechada, o indicador para o fluxo de ar gótico.
A voz também precisa de saúde e para tê-la é preciso alguns cuidados: Não desgastá-la, não gritar e deixá-la fluir naturalmente sem exageros ou esforço. A bebida, o cigarro e o gelo, fazem muito mal a voz.
Existem casos curiosos, a maioria dos japoneses tem calo nas pregas vocais porque falam muito baixo. Os italianos criam nódulos por falarem alto, por isso a voz deve ser exercida de acordo com o organismo de cada um, ou seja, ela é limitada a sua capacidade.
Tem pessoas que perdem a voz por doença como o câncer de laringe e passam por adaptações para falarem com auxílio de aparelhos que deixam a voz robótica ou a respiração feita pela traquéia, falando pelo esôfago. No caso dos mudos, eles produzem sons só que não os distinguimos e muitos não falam porque são surdos já outros aprendem a leitura labial para entender a mensagem e usam as mãos para se fazer entender.
Um fato muito interessante, é que a voz está ligada também a emoção, ela a reflete através do tom, da maneira ou estado, pois logo percebe-se num indivíduo uma voz trêmula, embargada, chorosa, como percebe-se também a fúria ou a euforia.
De posse de tais informações, pode-se dizer que a voz e a musicalidade estão ligadas, a música sendo um relaxante e a voz como portadora, lembrando-se do dito popular “quem canta seus males espanta”. Vale salientar que a voz humana é universal, não importa o idioma, ela é fruto da natureza humana, fazendo do homem um ser especial e único, dando-lhe a capacidade de viver a sua plenitude de ser humano.
domingo, 14 de fevereiro de 2010
CUMPRIMENTO DO IDEAL
CUMPRIMENTO DO IDEAL
(Socorro Almeida)
O homem que canta não encanta,
A mão que estira não dá,
O mundo que espera não alcança...
O Brasil ainda se fará!...
O pão que enche é seco;
A água que brota é lágrima;
A esperança toda se desarma
E do Brasil o que será?...
A pátria que clama e acalenta;
A corja que manda e se amamenta
Do pão do homem sem Mãe,
Mas o Brasil ainda se fará!...
A vista se nega a imagem.
E ouvir é pouco para o muito...
Fazer é verbo principal
Para o Brasil renascer.
Das cinzas nasce a Fênix,
Pátria que ainda é mãe gentil,
De limpa cara e em punho a espada;
O novo mundo desmascarado
É a hora da esperança
É o novo sonho despontado.
É o pródigo pai de volta em casa
Para de novo cobrir seus filhos.
É a hora da epfania
É a hora da "Democracia”...
Quando?AL
(Socorro Almeida)
O homem que canta não encanta,
A mão que estira não dá,
O mundo que espera não alcança...
O Brasil ainda se fará!...
O pão que enche é seco;
A água que brota é lágrima;
A esperança toda se desarma
E do Brasil o que será?...
A pátria que clama e acalenta;
A corja que manda e se amamenta
Do pão do homem sem Mãe,
Mas o Brasil ainda se fará!...
A vista se nega a imagem.
E ouvir é pouco para o muito...
Fazer é verbo principal
Para o Brasil renascer.
Das cinzas nasce a Fênix,
Pátria que ainda é mãe gentil,
De limpa cara e em punho a espada;
O novo mundo desmascarado
É a hora da esperança
É o novo sonho despontado.
É o pródigo pai de volta em casa
Para de novo cobrir seus filhos.
É a hora da epfania
É a hora da "Democracia”...
Quando?AL
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